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"Não sou como Maysa.
Temos expressões diferentes"

Nascida em 1977, mesmo ano da morte da cantora Maysa, a atriz gaúcha Larissa Maciel, 31 anos, mal conhecia a obra da intérprete de sucessos como Ouça e Meu mundo caiu. Agora, após 11 meses de envolvimento com a gravação da minissérie Maysa – quando fala o coração, exibida recentemente pela Rede Globo, Larissa tem dificuldade em abandonar a expressão de profunda tristeza que era marca registrada da chamada rainha da fossa. Foi um trabalho meticuloso de interpretação que a obrigou a aprender a andar, se portar e até respirar como a personagem. Sem falar do mais importante: reproduzir aquele jeito "inimitável" de cantar e gesticular no palco – justo ela que sentia vergonha de cantar até em karaokê. A estreia de Larissa em rede nacional foi coroada com um grande sucesso de audiência. O maior desafio agora é apagar a marca deixada por esse trabalho, já que seu rosto é novo para o telespectador e corre o risco de ficar por muito tempo associado a esse primeiro papel.

Larissa encontra-se diante do mesmo desafio vivido por colegas como Mel Lisboa e Alessandra Negrini no início de suas carreiras. Mel até hoje não conquistou um papel denso e de destaque como aquele de Presença de Anita. Alessandra teve melhor sorte depois de Engraçadinha… seus amores, seus pecados e se firmou no seleto grupo de estrelas da Rede Globo.

É o que se deseja para Larissa, que, segundo Manoel Carlos, autor do roteiro da minissérie, tem tudo para aproveitar essa porta de entrada em um veículo popular como a tevê: "Ela demonstra uma sinceridade e uma verdade raras nas interpretações. Não é superficial em nada." Mais calma, doce e, o mais importante, não alcoólatra como a biografada, Larissa acredita que, com o tempo, o público vai saber diferenciar a atriz da personagem. "Eu me emprestei para a Maysa, mas não sou como ela. Temos expressões totalmente diferentes e isso facilita na hora de deixá-la para trás", diz. Inspirado na atuação da atriz francesa Marion Cottilard, vencedora do Oscar por sua atuação no filme Piaf, o diretor Jayme Monjardim, filho de Maysa, sugeriu a Larissa que captasse a essência de sua mãe, mas que fosse além da mera cópia. "Pedi que não a imitasse, porque ficaria falso", diz ele.

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Larissa foi descoberta no Sul por um dos preparadores de elenco da Globo e encantou Monjardim já na primeira vez que ele a viu nos testes de seleção. Além dos três meses de gravações, ela teve oito meses de pesquisa e preparação. Foram aulas de canto e violão, acompanhamento de uma fonoaudióloga e intensa expressão corporal. A maquiagem durava uma hora e meia e enchimentos sob a roupa davam a ilusão de alguns quilos a mais.

Mesmo nas gravações realizadas na Itália, Larissa se portou como Maysa: a bagagem usada na viagem pertencia à cantora. Não surpreende, portanto, que na avaliação do biógrafo Lira Neto, autor do livro Maysa: só numa multidão de amores, o trabalho de Larissa tenha suplantado o roteiro falho, que não conseguiu passar a complexidade da personagem cujos tormentos viraram meros caprichos: "Foi um trabalho irretocável. Ela conseguiu reproduzir o gestual e as caras e bocas de Maysa, sobretudo quando cantava." De férias merecidas, Larissa tenta agora ser só alegria. Mas a sua expressão ainda é de tristeza.

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RECEITA PARA SE PARECER COM MAYSA

ELEGÂNCIA
Larissa aprendeu a segurar o cigarro e o copo de uísque como a cantora. Naquela época, esses hábitos eram sinônimos de uma personalidade feminina forte e avançada

DUBLAGEM
Além de treinar para cantar igual a Maysa, com perfeita sincronia labial, a atriz aprendeu a respirar no mesmo ritmo da artista

MANIAS
Entre os diversos hábitos da biografada, Larissa respeitou o mesmo cuidado com as unhas, sempre benfeitas

SUPERSTIÇÃO
A atriz passou a carregar na bolsa uma carteira de identidade falsa com foto sua e o nome da cantora