i89692.jpg

Ano de 2058. Uma coleção de esculturas, livros e filmes é resgatada das chuvas torrenciais que assolam Londres e guardada sob o teto de uma usina elétrica desativada. Os livros são épicos e os filmes, clássicos. Sob o efeito das águas, as esculturas crescem como plantas tropicais. Fazer com que as coisas atinjam proporções gigantescas e catastróficas é a maneira que a artista francesa Dominique Gonzalez-Foerster encontrou para preencher o espaço monumental da Turbine Hall, na entrada Tate Modern de Londres. Nesta ficção, o público veste o papel de refugiado que lhe foi designado e ocupa os beliches da instalação em seus horários de almoço e descanso. O projeto TH.2058 é um site specific, isto é, uma obra concebida especificamente para o hall das turbinas do museu. Quando for removida, dificilmente encontrará outra área museográfica com 35 m de altura e 152 m de extensão. Mesmo que encontrasse, o projeto perderia o sentido, já que foi pensado para o contexto chuvoso de Londres. Ou seja, quando for removido da Turbine Hall, TH.2058 se autodestruirá automaticamente.

O site specific, quea em geral nasce com tempo de vida contado, é uma prática comum nas artes plásticas desde os anos 60. Existe desde que artistas americanos começaram a trabalhar diretamente sobre a paisagem, esculpindo a natureza. Mais recentemente, a prática foi assimilada por museus, que lhe dedicam áreas de circulação, átrios e outros espaços que fogem aos padrões expositivos.

i89693.jpg

VISÕES FUTURISTAS
Instalação sonora em cinco canais,
do coletivo Chelpa Ferro, preenche o
octógono central da Pinacoteca

Quanto mais incomum o espaço, mais estimulante para artistas, como o grupo carioca Chelpa Ferro, cujo desafio é, via de regra, preencher grandes áreas com instalações sonoras. A partir do domingo 25, o grupo ocupa o Espaço Octógono da Pinacoteca com uma escultura robótica de caixas de som que se movimenta acionada por um guindaste.
"Nosso intuito é aproveitar o potencial vertical do espaço", diz Luiz Zerbini, que integra o grupo com Jorge Barrão e Sérgio Mekler. A Pinacoteca destina sua sala octogonal a trabalhos encomendados desde 2003. O MAM-SP tem o Projeto Parede, que recebe intervenção de Mabe Bethonico a partir de 3/2. A Fundação Iberê Camargo seguiu a tendência e lançou seu Programa Átrio com uma instalação de Iole de Freitas, que fica montada até 8/2. Esta é também a última semana da intervenção da artista suíça Pipilotti Rist, convidada a transformar o átrio do MoMA-NY em uma videoinstalação imersiva.

i89694.jpg

FICÇÕES
1. Na Tate, Gonzalez-Foerster reproduz a aranha de Louise Bourgeois em dimensão gigante;
2.No MoMA-NY (acima), Pipilotti Rist preenche 7.354 metros cúbicos do átrio com vídeos

BATE-PAPO
Paulo Monteiro

Barro, chumbo e pintura

Referência da pintura neoexpressionista paulistana dos anos 80, Paulo Monteiro mostra trabalhos recentes na galeria Marilia Razuk, até sexta-feira 30, e faz retrospectiva de 20 anos de carreira na Estação Pinacoteca, até 22/2. A exposição apresenta obras de 1989 a 2008 e mostra como a pintura ainda alimenta suas criações em outros suportes.

Nos anos de formação, a dificuldade financeira foi um incentivo à experimentação?
Não. A dureza é mais um problema que um incentivo. É claro que, ao procurar uma saída numa situação adversa, você encontra coisas interessantes, mas eu perdi mais de 34 esculturas, porque foram feitas de restos de madeira e, com o passar do tempo, foram quebrando. O fator financeiro agia como um limitador.

A pintura está refletida na produção atual?
A experiência pictórica que tive conta muito na hora de fazer uma escultura. O barro, o chumbo, essas matérias meio moles que eu uso nas esculturas são uma aproximação do óleo, das massas de pintura. Mas o que conta na escultura é o material e não a cor. Trabalhar o tri-dimensional não é como o quadro, que já te dá um suporte de antemão. A escultura é mais complexa que a pintura

i89695.jpg

 

CHELPA FERRO/ Espaço Octógono, Pinacoteca do Estado, SP/ de 25/1 a 15/3 TH.2058 DOMINIQUE GONZALEZ-FOERSTER/ Turbine Hall, Tate Modern, Londres/ até 13/4 PIPILOTTI RIST: POUR YOUR BODY OUT (7354 CUBIC METERS)/ Donald B. and Catherine C. Marron Atrium, Museum of Modern Art, Nova York/ até 9/2