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Em um bairro central de Campinas, um pequeno sobrado oferece um tipo de serviço nada usual na região: o intercâmbio e a experimentação de arte contemporânea. O Ateliê Aberto não é galeria, instituição, produtora ou escritório. "Somos um pouco de cada. Não há compromisso com o mercado, queremos incentivar o diálogo", diz a artista Samantha Moreira, idealizadora desse espaço dedicado à site specific art (trabalhos feitos especificamente para um espaço) e a acolher artistas em início de carreira, como Isadora Gutmann, que exibe sua primeira individual até 10/10. Com esse programa, o ateliê de Samantha não apenas se sobressai do contexto do centro de Campinas, mas torna-se uma alternativa ao circuito oficial de galerias.

Em São Paulo, dois outros espaços atendem a anseios semelhantes. O nº 397 da rua Wisard já serviu de ateliê para vários artistas. Em 2003, inaugurou seu espaço expositivo com uma mostra dos três artistas "da casa" e entrou para o roteiro dos espaços experimentais. "Tem muita gente boa sem lugar para expor", diz Silvia Jábali. "Somos artistas trabalhando com artistas, expondo artistas. Estamos todos na mesma barca." Atualmente, estão em cartaz no Ateliê 397 Mariane Abakerli e Karen Kabbani, com curadoria de Rafael Campos. Em 18/10, entram Marcelo Amorim e Sofia Borges, com investigações sobre a natureza da imagem fotográfica. Segundo Campos, as aberturas são sempre aos sábados, "guarnecidas pelo já tradicional churrasco do William".

A poucos quarteirões dali, Adriana Matos Alves Duarte, mais conhecida como Xiclet, comercializa arte "para quem não tem milhões para entrar numa grande galeria, mas também não quer comprar na praça Benedito Calixto". Qualquer um pode expor na Casa da Xiclet, basta inscrever-se pela internet e pagar taxa de inscrição. "Não sou eu quem seleciona os artistas; são eles que selecionam a casa", diz. A casa não tem curadoria, mas apresenta mostras com temáticas que questionam o sistema de arte. Em 10/10, Xiclet abre a mostra Bienal, tô cheia, em alusão à proposta da 28ª Bienal de deixar vazio o segundo andar do pavilhão. Colaborou Fernanda Assef

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Autor do longa-metragem Andarilho, que nesta semana entrou em circuito em São Paulo e em breve estará no Rio de Janeiro, Cao Guimarães é um criador passível de múltiplas definições. Ele é ao mesmo tempo um fotógrafo que chegou ao cinema trilhando o caminho das artes visuais e um cineasta que edita seus filmes em forma de videoinstalações. Atualmente, duas delas estão no Museu da Pampulha, em Belo Horizonte. "Quando era adolescente, sonhava em virar cineasta. Só que fazer cinema não era simples. Continuei exercitando formas de expressão solitárias, como a fotografia e a literatura. Apenas com a revolução digital e o barateamento dos custos do exercício cinematográfico pude começar a fazer o que chamei de ‘cinema de cozinha’, em que eu participava de praticamente todas as etapas dos filmes, feitos quase literalmente na cozinha de minha casa", conta.

Nascido em Belo Horizonte há 42 anos, Guimarães é um artista andarilho, que transita por três realidades: o circuito da arte, os festivais de cinema e o mundo real, de onde extrai toda a sua poética. Ele tem obras em acervos de museus importantes, como a Tate Modern e o Guggenheim, e já participou de algumas bienais. Mas é a primeira vez que coloca um filme em circuito comercial. Andarilho é um filme de estrada, que acompanha as trajetórias de três caminhantes, mas não é uma história contada de forma convencional. Para o artista, no entanto, abdicar da narrativa linear que padronizou a linguagem do cinema não o afasta do grande público. "Quero crer que o público não é convencional. Um filme tem que ser uma obra aberta e o espectador deve ser considerado quase como um co-autor. Andarilho é um filme feito para espectadores ativos, que queiram criar um certo turbilhão interno, que queiram reinventar o filme", afirma.

Ateliê Aber to / Rua Santos Dumont, 323, Campinas, SP Ateliê 397/ Rua Wisard, 397, São Paulo Casa da Xiclet / Rua Fradique Coutinho 1.855, São Paulo