i63879.jpgUma menina desfila por entre os clientes do bordel suspensa numa liteira e, ao final, tem sua primeira noite com um homem arrematada pelo sujeito que ofereceu o maior lance. A cena do filme Menina bonita (1978), protagonizado pela então pré-adolescente Brooke Shields, representa o que se conhecia até hoje como leilão de virgindade. Mas, no século XXI, a prática ganhou novo significado graças à internet. Jovens que descobriram o potencial da rede para capitalizar com o próprio corpo estão oferecendo sua primeira vez a quem pagar mais. É o caso da modelo e ex-participante do Big Brother da tevê italiana, Raffaele Fico, 20 anos, que pretende arrecadar o equivalente a R$ 2,6 milhões com sua virgindade. Neste mês, Natalie Dylan, pseudônimo de uma americana de 22 anos, também anunciou que quer R$ 1,8 milhão para ter sua primeira experiência sexual.

Ambas juram não praticar prostituição e alegam motivos puramente financeiros para a decisão radical: Raffaele diz que quer comprar um apartamento e pagar um curso de interpretação, enquanto Natalie afirma que vai investir em sua formação psicanalítica para seguir carreira. Mas, para o psicanalista e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)Theodor Lowenkron, atrás de iniciativas como essas há, na verdade, uma incessante busca pela fama instantânea: “É a transformação da vida privada em pública em seu grau mais elevado”, alerta.

As duas jovens causaram rebuliço na blogosfera, além de protestos de feministas. Natalie, que é graduada em estudos femininos, se defende: “Acredito que o poder da mulher está em fazer algo por sua conta para o seu bem. Vivemos numa sociedade capitalista. Por que não posso ganhar com a minha virgindade?”, disse a jovem, em entrevista à rede de televisão americana CBS.

Para o sexólogo Amaury Mendes Junior, membro da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, a valorização da castidade feminina, que ganha força com essa forma de leilão, já foi superada em nossa sociedade. Porém, hoje, ganhou status de fetiche. Se, no início da civilização, ela fazia sentido para o homem ter a certeza de estar sustentando uma prole realmente sua, o avanço feminino no mercado de trabalho fez com que essa justificativa caísse por terra. “Apesar disso, curiosamente, recebo mulheres no meu consultório em busca de uma cirurgia de reconstrução do hímen, seja para não decepcionar o noivo, seja como presente de aniversário de casamento para o marido”, revela o médico.

No caso de Natalie, ela assegura que ainda se mantém virgem e, além de um teste de detecção de mentiras, cogita se submeter a exames médicos para provar na prática seu discurso. Assim como a jovem americana e a italiana, mulheres de países como Chile, Austrália e Reino Unido também investiram na comercialização de sua virgindade pela internet. No Brasil, ainda não há registro de ofertas nos mesmos moldes. Pelo menos por enquanto, a moda não pegou.

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