A corrida para a escolha dos candidatos à vice-presidência no Brasil guarda particularidades difíceis de ser compreendidas pelo eleitor. Como explicar, por exemplo, a razão que leva as siglas partidárias a fazer desse cargo executivo uma mera moeda de troca na composição das chapas, um joguete para viabilizar manobras eleitoreiras? Por uma distorção política que deveria ser corrigida, os nomes lançados nesse tabuleiro em geral obedecem ao critério de mera acomodação de interesses das alianças. Assim, o partido “A” que tem um candidato à Presidência da República aceita a opção de um nome a vice do partido “B” sem considerar as qualificações do escolhido para que ele, depois, no caso de vitória da chapa, se converta efetivamente num quadro de atuação relevante no Executivo.

O que importa mesmo é se o apontado para vice agrega palanque para a chapa majoritária em seus redutos regionais, se traz mais tempo de têve no horário eleitoral gratuito, se atende aos interesses específicos da bancada que dirige o partido durante a campanha. Vice no Brasil, há décadas, ficou sendo assim um mero cargo figurativo, com pouca representatividade nos governos, salvo honrosas exceções – como ocorre agora com o atual, o empresário José Alencar, uma das vozes mais tonitruantes a favor dos interesses da população. Desde a redemocratização dos anos 60, que aboliu o voto direto para o posto de vice, passaram a ser frequentes as atuações contemplativas dos escolhidos, mesmo nas gestões dos anos de chumbo que marcaram a ditadura. Por mero acaso ou circunstâncias impossíveis de se prever, a conversão do vice em presidente de fato e de direito aconteceu com muita frequência nesse período, e só aí foi possível ao cidadão enxergar exatamente o conjunto de qualificações do titular do cargo – que não foi escolhido por ele enquanto eleitor, e sim imposto por barganha dos líderes partidários que têm o poder de decisão. Para todos os efeitos, a missão da vice-presidência da República não pode ser encarada como inócua e seu ocupante não deve, nunca, ter apenas um papel decorativo.


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