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SONHO REALIZADO
Em 2009, 300 mil brasileiros foram à Disney

Os brasileiros estão viajando mais. A valorização do real, a estabilidade e o crescimento da economia – com mais empregos e melhores salários – são os principais motivos apontados pelos especialistas em turismo como os responsáveis por esse comportamento recente da classe média, que responde por 85% da movimentação no setor. Segundo dados do Ministério do Turismo, o número de desembarques domésticos em janeiro de 2010 foi de 5,6 milhões de passageiros, um aumento de 22,5% em relação ao registrado no mesmo período de 2009. Apesar dos bons resultados, os destinos nacionais têm enfrentado, cada vez mais, a concorrência internacional. Na segunda-feira 22, o Banco Central divulgou que o gasto de brasileiros lá fora atingiu US$ 1,2 bilhão em janeiro deste ano, um recorde que incomoda as contas públicas porque pesa no balanço das transações correntes do País – as despesas com viagens equivalem a 31,6% do déficit, contra 13,5% na década de 1990 e 3% nos anos 1980.

A moeda forte e a economia seriam motivos suficientes para estimular os brasileiros a realizarem antigos sonhos de conhecer outros países. Mas há outra explicação para a debandada. Viajar para o Exterior ficou mais fácil com os financiamentos e a diversificação de pacotes. Depois de 15 anos de estabilidade, o brasileiro também é capaz de fazer algumas contas simples e verificar a relação custo-benefício dos reais que desembolsa nas férias. Basta uma calculadora na mão para checar o comportamento de preços na alta temporada daqui e do Exterior. Enquanto no Brasil os valores dão um salto médio de 40%, em quase todos os países que os brasileiros sonham conhecer o aumento é de 25%. Em preços relativos, o turista prefere visitar Buenos Aires, Disneylândia e Paris a passar uma semana numa pousada no Nordeste.

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“Em Buenos Aires tem mais clima para namorar e ainda posso fazer boas compras”
Maria Cristina Schiavetti, funcionária pública

A funcionária pública Maria Cristina Schiavetti, 53 anos, escolheu Buenos Aires para comemorar seus nove meses de namoro. Esta é sua terceira viagem para a Argentina em três anos. Em 2008, foi sua estreia. No ano passado, fez um cruzeiro com as filhas adolescentes, que nunca haviam saído do País, para a Argentina e o Uruguai. Desta vez, chegou a cogitar Fortaleza. Mas comparando os valores ficava praticamente o mesmo preço de um passeio até a capital argentina. “Minha escolha foi porque lá tem mais clima para namorar e ainda posso fazer boas compras”, diz.Cristina aproveitará o câmbio favorável para renovar o guarda roupa. Um real vale cerca de 2,15 pesos argentinos. Pelo pacote – que inclui hotel quatro-estrelas, passagens de ida e volta, translados, city tour e seguro-saúde – o casal vai pagar R$ 2,4 mil, que serão divididos em oito prestações sem juros. “Com a confiança na economia que existe atualmente, os consumidores têm segurança para parcelar a viagem de férias, o que anima muita gente a viajar”, avalia o diretor de planejamento do Banco Rendimento, Alexandre Fialho.

O pensamento de Cristina parece ser o mesmo de muitos brasileiros que descobriram o prazer de viajar. Os cruzeiros estão se tornando cada vez mais populares. Antes sinônimo de luxo, uma viagem de navio tornou-se viável à classe média e média baixa graças às facilidades de financiamento – em até dois anos. Segundo Leonel Rossi Júnior, diretor da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), cerca de um milhão de brasileiros embarcaram em navios no último verão.

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Um dos critérios mais considerados pelos brasileiros que escolhem o turismo internacional são as compras. Existe, inclusive, uma tendência crescente de viagens feitas exclusivamente para este fim. “Em dezembro do ano passado, chegamos a organizar viagens de turistas que queriam ir a Nova York só para aproveitar as liquidações de fim de ano”, conta Jarbas Correa Júnior, diretor comercial da Agaxtur Turismo. No ano passado, segundo dados da Disney, 300 mil brasileiros foram conhecer a terra de Mickey.

No entanto, é nos países vizinhos ao Brasil que as agências de viagem mais apostam para conquistar novos clientes para os destinos internacionais. “Buenos Aires é a porta de entrada de quem nunca havia viajado para o Exterior, mas é só uma questão de tempo para este consumidor ir cada vez mais longe”, diz Leonel Rossi Júnior, da Abav. O segundo destino desse cliente é, na maioria dos casos, os Estados Unidos. E as notícias não são boas para o turismo nacional. A tendência de ganhar o mundo deve se manter este ano e em 2011. De acordo com a Agaxtur, o turismo nacional deve crescer em torno de 10% este ano e o internacional 12%, sobretudo, por causa da Copa do Mundo na África do Sul.

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EFEITO COPA
Jericoaquara (CE): turismo interno subirá 10% contra 12% do internacional

Uma pesquisa anual realizada pelo Ministério do Turismo em parceria com a Fundação Getulio Vargas indica um aumento de 14,6% no faturamento das empresas para 2010. Foram ouvidas as 80 principais empresas do setor no País – que respondem por um orçamento de R$ 35 bilhões e empregam cerca de 85 mil profissionais em todos os Estados brasileiros. “A pesquisa mostra o bom momento do Brasil, que é assentado no enfrentamento da crise econômica, nos fundamentos da economia e no crédito. Isso faz com que o turismo pegue uma carona neste otimismo da economia”, diz o ministro do Turismo, Luiz Barretto.

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“Não dá para comparar uma semana num resort de luxo no Brasil com um hotel modesto no Exterior”
Leonel Rossi Júnior, da Abav

Este cenário favorável poderia ser aproveitado pelo turismo nacional para rever sua posição no mercado. “É uma falácia dizer que viajar pelo Brasil custa o mesmo que viajar para o Exterior”, defende Rossi Júnior. Segundo ele, nesta comparação, é preciso utilizar os mesmos parâmetros. “Não dá para comparar uma semana num resort de luxo no Brasil com um hotel modesto no Exterior”, diz. O turista brasileiro, porém, tem optado por abrir mão do conforto nacional em troca da experiência de conhecer outras culturas. Talvez seduzido também por um preço mais atraente. Este, por ora, é o maior desafio do Ministério do Turismo.

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