No fim do primeiro mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concluiu que sua administração deveria melhorar a relação com a imprensa. A avaliação no Palácio do Planalto era de que o governo comunicava mal suas realizações. Para mudar isso, Lula convidou, em março do ano passado, o jornalista Franklin Martins para assumir, com status de ministro, a Comunicação Social do governo. Capaz de aliar a experiência política com a intimidade sobre o dia-a-dia das redações, Franklin, um ano depois, não apenas cumpriu sua missão inicial como tornou-se um dos principais conselheiros de Lula e, hoje, passa pelo seu crivo qualquer patrocínio do governo ou de estatais que supere R$ 10 mil.

FRANKLIN FAZ

1- Define com o presidente Lula o que deve ser divulgado ao fim das reuniões dos ministros da coordenação política

2- Recomenda aos ministros que evitem discussões em público, como fez recentemente com o general Jorge Félix e o ministro Nelson Jobim

3- Centralizou na Secom toda a política de publicidade e patrocínio dos ministérios e empresas públicas

4- Tornou mais freqüentes as entrevistas do presidente da República, sejam as exclusivas, sejam as de improviso

5- Conseguiu aprimorar a divulgação das realizações do governo Lula

Discreto, o ministro não gosta de alardear poder. Fica até incomodado quando tentam atribuir a ele qualquer movimento que implique suposta ampliação de sua área de atuação. Sabe bem que o presidente tem ojeriza a ministros que se apresentam como "superpoderosos". Sabe também que quem demonstra muita força logo se transforma em alvo do chamado "fogo amigo" palaciano. Mas a influência de Franklin é cada vez mais percebida. A atuação do governo ao lidar com a crise dos grampos, por exemplo, tem a colaboração direta dele. Durante reunião da coordenação política, ele defendeu que o governo não entregasse definitivamente a cabeça do diretor da Abin, Paulo Lacerda. Lembrou ao ministro da Defesa, Nelson Jobim, que quando ministro da Justiça ele não demitiu o irmão do então diretor da Polícia Federal, Vicente Chelotti, responsável por grampear o chefe do cerimonial do Palácio do Planalto e o então presidente Fernando Henrique Cardoso, no episódio do Sivam. Após a troca de farpas públicas entre Jobim e o ministro Jorge Félix, do Gabinete de Segurança Institucional, sobre se a Abin teria ou não instrumentos para grampear o presidente do STF, coube a Franklin enquadrá-los em encontro reservado no Palácio, na quinta-feira 4 de setembro. Na conversa, o ministro da Comunicação Social alertou sobre a necessidade de afinar o discurso. Na quarta-feira 17, Jobim recuou na CPI dos Grampos (leia reportagem à pág. 52).

Tentar evitar ruídos na comunicação do governo é uma das tarefas diárias de Franklin. Dono de assento cativo nas reuniões de coordenação no início da semana, ele faz uma análise do noticiário, e, com o presidente Lula, define o que deve ser divulgado à imprensa. O ministro também é responsável por coordenar as ações de comunicação que envolvem mais de um ministério. Na última semana, Lula editou um decreto que, na prática, subordinou ao ministério de Franklin os setores de comunicação digital, promoção e patrocínio de ministérios e empresas públicas.

O Decreto 6.555 diz que estatais e ministérios só têm autonomia para contratar patrocínios até R$ 10 mil. Deste valor até R$ 100 mil, a contratação deve passar obrigatoriamente pelo crivo da Diretoria de Patrocínio da Secom, subordinada a Franklin.

Acima de R$ 100 mil, só com aval do Comitê de Patrocínios, hoje também sob a batuta do ministro. A Secom já realizou três licitações pelo novo modelo, que somam R$ 30 milhões.

"Sabia que íamos apanhar, mas todos compreenderam a importância do PAC."
Franklin Martins

 

Um exemplo de sucesso da nova comunicação do governo, quase sempre mencionado por Franklin, são os balanços quadrimestrais do PAC e a propaganda "Mais Brasil para mais Brasileiros". Embora tenham sofrido rejeição inicial e se tornado alvo de críticas da imprensa, tanto a divulgação do programa como a propaganda oficial consolidaram, no imaginário popular, a percepção de que é possível haver crescimento econômico com inclusão social. "Sabia que íamos apanhar num primeiro momento, mas todos compreenderam a importância do PAC. Tudo era um processo e as obras iriam sair do papel", disse Franklin, em conversa informal com ISTOÉ.

Filho do senador Mário Martins, cassado pelo AI-5, Franklin foi integrante da Ação Libertadora Nacional e do MR-8, que seqüestrou o embaixador americano Charles Elbrick em 1969. Ele admite que se surpreende ao ver no governo Lula personagens de sua geração que participaram da luta armada, como a ministra Dilma Rousseff e seu subsecretário, Ottoni Fernandes Júnior. "Minha geração se preparou para morrer antes dos 30", diz, sem esconder a emoção. Jornalista habituado a lidar com os bastidores de Brasília desde 1985, Franklin é hoje, na avaliação até dos adversários, um dos quadros mais influentes do País. Mas, apesar do peso cada vez maior no governo e de se definir como uma pessoa movida a desafios, o ministro garante que não alimenta a ambição de concorrer a cargos eletivos. Quando deixar o governo, Franklin pretende concluir um livro a re spe ito da produção de música sobre política no Brasil, desde 1902 até os dias de hoje. Vai incluir, como não poderia deixar de ser, a música Luiz Inácio avisou, do Paralamas do Sucesso.