A menos que o planeta Terra seja invadido por uma imbatível força aérea alienígena, na quinta-feira 19 o mundo
inteiro só vai estar falando de uma coisa: a aterrissagem nos cinemas de Star
wars: episódio III – A vingança dos Sith
(Star Wars: episode III – revenge of the
Sith, Estados Unidos, 2005), o aguardado filme de George Lucas, que revela
como o cavaleiro Jedi Anakin Skywalker sucumbe ao lado negro da Força e se converte no temível Darth Vader. O interesse pelo filme não vem apenas da revelação, esperada desde que o primeiro título da saga interplanetária conquistou crianças e adultos há quase 30 anos.

A vingança dos Sith é justamente o último filme da dupla trilogia, o título que alinhava todas as pontas e dá sentido à maior aventura de ficção científica jamais imaginada. De Nova York a Nova Délhi, de São Paulo a Moscou, fãs do fenômeno pop que já faturou mais de US$ 3,5 bilhões em bilheteria e US$ 9 bilhões em merchandising fazem a contagem regressiva. Em Los Angeles, por exemplo, desde meados de abril garotos passam a noite diante do Chinese Theater, em Hollywood, para garantir seus ingressos na estréia. O pior é que eles nem sabem se a primeira sessão do filme será mesmo nesse cinema. Na verdade, a exibição de gala de A vingança dos Sith acontece durante o Festival do Filme de Cannes, na França, no domingo 15. No dia seguinte, uma maratona de 14 horas com os cinco outros títulos da aventura épica – A ameaça fantasma (episódio I), O ataque dos clones (episódio II), Uma nova esperança (episódio IV), O Império contra-ataca (episódio V) e O retorno de Jedi (episódio VI) – será coroada justamente com a première londrina da fita, ao custo módico de 50 libras, ou seja, quase R$ 300. Mesmo assim, os mil ingressos esgotaram em cinco minutos.

Entre os seletos convidados de uma sessão promovida por Lucas há uma semana na sede do seu império, o Skywalker Ranch, na Califórnia, Steven Spielberg não economiza elogios ao derradeiro episódio. Em entrevista à radio londrina XFM, na segunda-feira 2, Spielberg colocou mais açúcar na boca dos aficionados ao garantir que o filme é completamente maravilhoso. “Trata-se do melhor dos três episódios recentes, a melhor maneira que você poderia imaginar George encerrando sua saga. O final é fabuloso, sombrio, maravilhoso, de fazer chorar”, afirmou. Outro cineasta que teve acesso ao filme foi Kevin Smith, de O balconista e Dogma, cotado para dirigir episódios das duas séries televisivas de Guerra nas estrelas, anunciadas por Lucas há duas semanas. Fã da história desde os oito anos de idade, Smith publicou uma crítica no seu blog que já está disseminada na internet. “Este é o episódio que até aqueles que odeiam a série estavam esperando desde o lançamento de A ameaça fantasma. Se eles não curtirem, estarão mentindo”, escreveu. A opinião é compartilhada por Richard Corliss, crítico de cinema da Time Magazine, uma das primeiras publicações americanas a assistir à fita. Na edição desta semana, a capa da revista estampa a máscara de Darth Vader com os dizeres: “O último Star wars. Nós vimos: é mais dark, mais assustador, melhor.”

Híbrido – A vingança de Sith abre de forma grandiosa, com uma batalha sobre o planeta-cidade Coruscant, sede da República e lar dos cavaleiros Jedi. Acompanhado de seu mentor, Obi-Wan Kenobi (Ewan McGregor), Anakin Skywalker (Hayden Christensen) sai no encalço de Grievous, um ser híbrido, metade animal, metade andróide (ele tem o rosto semelhante a uma ossada de cachorro e o esqueleto metálico) para libertar o refém Palpatine (Ian McDiarmid), que vem a ser o vilão Darth Sidious. Grievous, aliado do Conde Dookan (Christopher Lee), lidera o exército andróide, da Aliança Separatista, força por trás das Guerras Clônicas que ameaçam a paz da galáxia. Paralelamente, Padmé Amidala (Natalie Portman) revela ao marido Anakin que está grávida. O problema é que, se o romance dos dois for revelado, Anakin será expulso da ordem Jedi. Acossado por sonhos em que Padmé morre de parto, Anakin vê-se dividido entre os sentimentos pessoais e os deveres coletivos. Para salvar a amada, acaba pendendo para o lado de Palpatine, que lhe mostra os poderes proibidos da Força. O crítico da Time viu nesses conflitos traços de Hamlet, Macbeth, Brutus e Titus Andronicus. Ou seja: um mix-shakespeariano.

Pais e filhos – Lucas não se esqueceu e outro personagem torturado. Em entrevista à revista americana Premiere, afirmou que, desde o início do ciclo Guerra nas estrelas, quis refletir sobre “como César chega ao poder” sob o estilo de ficção científica. Indo mais fundo em suas pretensões, diz que A vingança de Sith é, basicamente, uma tragédia grega. “A primeira trilogia é a história das crianças, e esta é sobre o pai. A respeito de pais e filhos e de como uma geração tem que consertar o que a outra fez.” Portanto, vistos cronologicamente – e não na ordem em que foram feitos – os seis filmes tratam da trajetória de Anakin Skywalker, de como um garoto predestinado e concebido “sem pecado” sucumbe ao mal e é redimido pelos filhos Luke Skywalker (Mark Hamill) e a Princesa Leia (Carrie Fisher), os personagens do primeiro Guerra nas estrelas a aportar nos cinemas. Mais preocupado com a figura de Anakin e sua transformação em Darth Vader, Lucas estende as guerras clônicas só até o meio do filme. Mesmo assim, a produção de US$ 115 milhões soma 2.151 planos de efeitos especiais.

As cenas mais aguardadas são, obviamente, aquelas que trazem lutas de sabre de luz. Há aquela entre Yoda e Darth Sidious e especialmente a mais comentada: o duelo final entre Obi-Wan Kenobi, vestido de branco, e Anakin, sob vestes negras. A seus pés, um rio de lavas do planeta vulcânico Mustafar. Depois desta cena é que se fica sabendo por que Darth Vader se move de forma mecânica e usa uma máscara sufocante. Referindo-se à grande revelação do filme, Spielberg fez uma piada para não estragar a surpresa guardada pelo amigo. “Vi o filme já finalizado. Garanto que Darth Vader não é uma mulher”, comentou, com seu humor judaico.