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ZONA DE CONFORTO
Artistas sem galeria expõem na Casa da Xiclet

Iniciativa autônoma capitaneada pelo jornalista Celso Fioravante, o 1º Salão dos Artistas sem Galeria surge sob a premissa de proporcionar visibilidade e inserção comercial a artistas que, por motivos diversos, estão à margem do mercado de arte contemporânea. O formato é simples: a partir de um edital aberto, artistas que preenchessem o requisito – único – de não manter quaisquer vínculos oficiais com galerias inscreviam seus trabalhos, mediante o pagamento de uma taxa de R$ 100. O valor arrecadado com as inscrições seria a fonte de viabilização do salão. De um total de 258 inscritos de todo o País, foram selecionados dez artistas, que ganharam o direito de expor sua produção. A seleção foi feita por um júri composto por dois galeristas e um crítico/curador, que também premiou três artistas: Bartolomeo Gelpi, Amanda Mei e Bettina Vaz Guimarães, numa decisão sem surpresas. As exposições trazem conjuntos de trabalhos corretos, que chamam a atenção tanto pela boa média de qualidade como por certa, digamos, falta de ousadia.

Em sua maioria, as obras parecem situadas numa “zona de conforto” em suas formalizações – o que, se por um lado condiz com a premissa embutida de atrair galeristas, por outro decepciona em se tratando de uma iniciativa de caráter independente, da qual se poderia talvez esperar mais experimentação. Seja como for, a proposta do evento traz à tona questões relevantes no que tange às relações entre salões e mercado de arte, bem como a aspectos por vezes perversos na dinâmica que rege o sistema de arte contemporânea. Qualidade do trabalho, tempo de trajetória e comprometimento com a fatura nem sempre se traduzem em garantia de inserção ou aceitação no mercado; os critérios para tal podem ser mais pragmáticos, como sintonia da produção com tendências em voga e outros atributos mais friamente objetivos. A iniciativa deste salão, de resto bem-vinda, tem o mérito de explicitar alguns destes aspectos e propor com franqueza alternativas de inserção em um circuito onde as regras nem sempre estão ao alcance de todos. Já como se dará a transição do lado dos “excluídos” para o lado dos “aceitos”, se efetivada, bem, isso é com os artistas.

Guy Amado é crítico de arte e pesquisador em arte contemporânea