Semana passada, estava jantando com alguns amigos que haviam acabado de ter um filho. Não sei bem por quê, a conversa acabou evoluindo para uma discussão sobre o grau de influência que os pais têm sobre o futuro dos filhos. Eles defendiam que, se dessem muita atenção, colocassem no colégio “certo” e fizessem tudo o que “manda a cartilha”, as chances de a criança se tornar um “cidadão de respeito” eram garantidas.

Alguns dias depois, almoçava com outro amigo, grande empresário, que me contava como o Brasil está em um momento muito especial e que “não tem como” nossa economia crescer abaixo de 6%.

Ontem revi um amigo de longa data que me disse que, desde que parou de fumar, estava fazendo exercício diariamente. Como resultado, tinha certeza que iria viver muito mais.

Acho extremamente importante termos a ilusão do controle.

Ela nos ajuda a manter uma certa consistência em um mundo em constante mudança e evolução.

O problema é quando confundimos a ilusão com a realidade.

A realidade é que os fatores que determinam o futuro de uma criança, uma empresa ou até um país estão, muitas vezes, totalmente fora de nosso controle ou consciência.

Psicólogos, economistas e médicos são excelentes em prever o passado. Quem já viu filhos de “boas famílias” que se tornaram delinquentes, acompanhou a última crise financeira ou teve um parente com “virose” sabe muito bem que nossa capacidade de controlar o futuro a médio prazo é praticamente nula.

Mas, se não temos controle, o que fazer? Não tenho a resposta para essa questão, mas compartilho com você algumas dicas que funcionaram para mim:

1) Assuma que o controle é uma ilusão. Ao reconhecer que o número de fatores desconhecidos em qualquer situação é muito maior do que o de conhecidos, passamos a ter controle sobre não ter controle. Isso pode parecer dicotômico, mas vai lhe dar uma grande sensação de paz.

2) Saiba que tudo que está fazendo neste momento é o melhor que pode fazer. Existe um limite físico e mental para tudo o que fazemos. Além deste limite existe a fé. Se você tem fé que está fazendo o melhor que pode com o que tem, tudo que fizer se tornará mais fácil.

3) Aceite os fluxos da vida. Tudo nesta vida tem seu momento. Saber reconhecer e aceitar isso como parte da vida lhe permite evitar de tentar “plantar no outono” ou “colher frutos na primavera”. Utilize os momentos de contrafluxo para afiar seu machado.

4) Lembre-se que nada nesta vida é estático. Das águas dos oceanos às células de nosso corpo, tudo está em constante mutação. Ter consciência disso lhe permitirá saber que a todo momento existe uma chance para começar de novo.

5) Entenda que a vida é um grande e maravilhoso mistério. Embora não saibamos de onde viemos, para aonde vamos e às vezes quem somos, não devemos deixar de viver cada dia como se fosse o verdadeiro milagre que é.

Curiosamente, quase nenhum de nós tem domínio consciente sobre as funções mais básicas de nosso corpo. Respiramos, comemos e fazemos nosso coração funcionar sem esforço algum. Aliás, quando precisamos nos esforçar para controlar essas partes de nosso corpo, geralmente é porque temos algum problema.

E, tal como não nos preocupamos em ter controle sobre nosso sistema autônomo, mas mesmo assim ele (quase sempre) funciona, deveríamos aprender a deixar os eventos, as pessoas e os sentimentos fluírem.

Ao se libertar da ilusão do controle, ganhamos controle sobre a ilusão e passamos realmente a viver.