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“DAMAS DE BLANCO”
Cubanas são retiradas à força de protesto

Em seu ocaso, o regime cubano virou alvo das mesmas manifestações que sofreram as ditaduras de direita no Cone Sul, nas décadas de 1970 e 1980. Se na Argentina dos generais havia as Madres de Mayo, agora, nas ruas de Havana, testemunha-se o triste espetáculo das Damas de Blanco, mulheres e mães de presos políticos cubanos. Na quarta-feira 17, cerca de 50 integrantes do grupo saíram às ruas do bairro de Párraga, no subúrbio da capital, empunhando ramos de flores e pedindo a libertação de seus familiares. Tentavam chegar à Igreja de Santa Bárbara, mas foram brutalmente reprimidas pela polícia política cubana. Entre as “damas” estava Reyna Luisa Tamayo, mãe do prisioneiro de consciência Orlando Zapata Tamayo, que morreu em 23 de fevereiro após 85 dias de greve de fome. “Fomos xingadas e agredidas durante um protesto pacífico. Foi terrível!”, relatou Reyna à ISTOÉ. Segundo ela, foi a reação mais dura do governo desde a chamada Primavera Negra de 2003, quando Fidel Castro mandou prender 75 dissidentes e os submeteu a julgamentos sumários.

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“Se bateram na mãe à luz do dia, imagina o que fizeram
com o filho na prisão”

Reina Tamayo

As participantes da marcha foram detidas e colocadas à força num ônibus do governo, sendo liberadas horas mais tarde. Coincidentemente, por volta das 21h, Reyna recebeu em casa um funcionário do governo que lhe entregou o atestado de óbito do filho Orlando Zapata. “Só que no atestado não estava o real motivo da morte de meu filho. Ele foi torturado”, afirma a cubana de 61 anos. “Se bateram na mãe à luz do dia, imagina o que fizeram com Orlando Zapata na prisão.” O governo cubano acusa as Damas de Blanco de estarem a soldo dos Estados Unidos, pois muitas dispõem de telefones celulares, um item de luxo cuja comercialização foi liberada pelo presidente Raúl Castro. Reyna se defende: “O dinheiro vem de expresos políticos e amigos.” Para o jornalista independente Luis Cino, o aumento da repressão atesta a intenção do governo de adiar qualquer abertura política. Nesse sentido, declarações de apoio como a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva “dão sobrevida ao regime”.

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Em visita a Havana, Lula tirou fotos ao lado de Fidel e criticou Orlando Zapata por “se deixar morrer”. Dias depois, comparou prisioneiros políticos a criminosos comuns. Em Miami, dissidentes cubanos invadiram o consulado brasileiro em protesto à posição do governo brasileiro. “A greve de fome é a única alternativa dos prisioneiros para denunciar as atrocidades do regime”, reage Reyna. Pode-se dizer que ela aprendeu a lição com o próprio Fidel Castro, que, em 1981, ergueu em Havana um monumento em homenagem aos irlandeses que morreram em greve de fome pela independência da Irlanda. As palavras do Comandante estão cunhadas numa placa de chumbo, difíceis de apagar.