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Na intimidade dos Versace: :disputa de poder, egos inflados e laços familiares intensos e conturbados dão o tom do novo livro sobre o clã italiano. Confira a reportagem em vídeo

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IMAGENS DO PASSADO
Foto de capa do livro “House of Versace”

Versace. De imediato, o nome nos remete a um glamour escandaloso, a uma sensualidade atrevida, à riqueza e à ousadia. Também nos faz lembrar de vestidos majestosos, estampas rebuscadas, decotes e fendas. Mas tudo isso representa apenas metade da história da grife italiana, fundada pelo lendário Gianni Versace em 1978. Versace também é sinônimo de talento, ambição, polêmica e de uma forte relação entre irmãos (Gianni, Donatella e Santo), interrompida abruptamente na tarde de 15 de julho de 1997, dia em que seu fundador foi assassinado na entrada da Casa Casuarina, a mansão de 35 quartos do estilista em Miami Beach. Os dois lados da mesma história se fundem no livro “House of Versace – The Untold History of Genius, Murder, and Survival”, escrito pela jornalista americana Deborah Ball e recém-lançado nos Estados Unidos (sem previsão de chegar ao Brasil). Para isso, a autora fez mais de 100 entrevistas. Foram ouvidos membros da família, como Donatella, modelos como Naomi Campell, que ele ajudou a projetar, e editores de moda como Ana Wintour, da “Vogue America”. O ponto de partida de Deborah para contar a história do clã foi exatamente o dia 15 de julho de 1997.

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EM FAMÍLIA
Filhos de Donatella (à dir.): Allegra, no colo de Gianni, e Daniel, com o pai, Paul Beck, no Lago de Como (1993).

Naquela manhã, Gianni e Antonio D’Amico, seu parceiro de 15 anos, haviam acabado de desembarcar na Flórida. Seus irmãos, Donatella – definida como o alter ego do estilista – e Santo, responsável pela parte administrativa do império, estavam em Milão, cuidando dos preparativos de um desfile da grife para uma emissora italiana. No meio da tarde, Gianni foi assassinado por Andrew Cunanan, um gigolô homossexual fanático por notoriedade. Sua família levou anos para se recompor da tragédia. Ao relatar os acontecimentos que antecederam o crime, a autora revela traços da personalidade do mais famoso dos Versace. Como o ego altamente inflado de Gianni, que lhe rendeu rivais do quilate de Giorgio Armani, outro célebre estilista italiano. Foi por causa disso, inclusive, que ele estava em Miami e não em Milão no dia de sua morte. Naquela data, ele seria homenageado no evento de moda que movimentava a cidade italiana. Mas preferiu não estar presente porque não suportou a ideia de dividir o camarim com seus concorrentes, especialmente Armani. “Certa vez, Gianni disse que Armani veste as esposas e Versace, as amantes. A frase se tornou célebre”, escreveu Deborah. “House of Versace” esmiúça a relação entre Gianni e Donatella, que depois da morte dele assumiu a direção criativa da grife. Os irmãos sempre foram cúmplices. Até que, em 1994, Gianni foi diagnosticado com câncer e forçado a delegar funções a Donatella.

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CASA CASUARINA
Gianni Versace foi assassinado na entrada de sua mansão de 35 quartos em Miami

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Quando voltou, levou um susto. “Ele percebeu que sua equipe tendia a seguir as determinações de Donatella, sentiu que perdeu espaço e ficou ressentido. A relação ficou abalada”, escreveu Deborah. O mal- estar se diluiu com o tempo, mas a relação nunca mais foi a mesma. Com a morte de Gianni, Donatella perdeu o rumo. Ela se afundou nas drogas e se tornou obsessiva por intervenções estéticas. A autora diz que, na época da morte de Gianni, ela chegou a gastar mais de US$ 150 mil (R$ 277,5 mil) por ano com apliques de cabelo. “Prancha, secador e tintura destruíram os fios de Donatella, que começaram a cair”, escreveu Deborah. “Ela foi atrás de cabeleireiros top em Nova York para colocar apliques. O cabelo que queria, loiro platinado natural, era raro e custava US$ 1 mil (R$ 1,8 mil) a sessão à qual ela se submetia pelo menos uma vez por mês.” Sua filha, Allegra, que na época tinha 11 anos e soube da morte do tio pelo noticiário da tevê, também sentiu o baque. No dia do velório, que arrancou lágrimas de personalidades como Lady Di e Elton John, ela era uma garota saudável e corada. Poucos anos depois, se tornou anoréxica. Além de Allegra, herdeira de quase 100% da Versace, Donatella é mãe de Daniel, que recebeu as obras de arte do tio. A publicação também traz detalhes do life style de Gianni. Ele investia em propriedades e preenchia paredes inteiras com arte. Em 1981, comprou um palácio do século XVIII na Via del Gesù, em Milão.

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Donatella e Allegra (2009)

Foi lá, inclusive, que ele encontrou inspiração para a logomarca de seu império, ainda em ascensão. Ao notar o desenho de uma cabeça de Medusa no trinco da porta de entrada da mansão, ele decidiu que usaria a imagem para representar o clássico, o sensual, o perigoso e o teatral. Nascido em uma família pobre de Reggio, no sul da Itália, ele aprendeu a costurar com a mãe, Francesca, e simplesmente não gostava de Milão, onde fixou a sede da Versace. Achava a cidade cinza e a população conservadora – os milaneses da elite preferiam Armani, enquanto os emergentes usavam Versace. Todas as quintas-feiras seguia para sua mansão no Lago de Como. Mas foi Miami, com seu estilo kitsch, efervescência noturna e desfile de corpos, que o arrebatou. “No início dos anos 90, a abundância de carne bronzeada masculina impulsionou o mercado de prostituição e Gianni e Antonio se beneficiaram disso”, escreveu Deborah. “Eles eram leais um com o outro, mas contratavam garotos de programa.” Como se vê, a polêmica, a dramaticidade e o ar teatral das peças de Versace têm razão de ser. 

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TRECHOS DO LIVRO

“(A modelo alemã) Claudia Schiffer (acima) era um patinho feio. Não sabia andar de salto
e parecia perdida na passarela. Mas Gianni a idolatrava”

“Gianni morreu considerando Giorgio Armani seu maior rival”

“Gianni e Antonio (D’Amico, seu parceiro de 15 anos) eram leais um com o outro,
mas se beneficiaram do esquema de prostituição de South Beach (Flórida)”


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