Senador diz que foi um erro o PSDB esperar tanto tempo para lançar a candidatura a presidente e que a militância perdeu o entusiasmo

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QUESTÃO DE ORDEM
"Não podemos ter o vice antes de ter o candidato na rua"

Um dos parlamentares mais influentes do PSDB, o senador cearense Tasso Jereissati não esconde sua insatisfação com a demora do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), em oficializar a candidatura à Presidência da República. Em entrevista à ISTOÉ, Jereissati foi taxativo. Para ele, por causa da estratégia equivocada de esperar até a data-limite para colocar a campanha ao Planalto na rua, a militância está perdendo o entusiasmo. “O Serra demorou. Enquanto isso, a nossa campanha vai murchando.

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"Demos chance para a candidatura de uma desconhecida ganhar espaço.
Agora não adianta chorar o leite derramado"

É como se, num jogo, a torcida adversária estivesse num clima de festejo e a nossa de moral baixo, deixando o estádio antes de o jogo terminar”, lamentou Jereissati. Na avaliação do senador, o partido errou ao dar espaço para o crescimento da candidatura da ministra Dilma Rousseff. Jereissati pondera, no entanto, que o atual cenário de crescimento de Dilma e queda de Serra nas pesquisas de intenção de voto é reversível: “Na hora em que a eleição entrar no contraponto, vai prevalecer muito um candidato contra o outro.”

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"Em 2002, realmente apoiei o Ciro, mas as condições foram muito especiais
e particulares. Hoje trabalho pelo candidato do PSDB"

ISTOÉ

O PSDB está preparado para enfrentar a ministra Dilma Rousseff, candidata da aliança governista e de um presidente superpopular?

Tasso Jereissati

Há duas diferenças em relação às últimas eleições em que tivemos um bom desempenho, na minha avaliação. A primeira, negativa para nós, é o fato de que a economia vai muito bem. A segunda, para mim determinante, é que Lula não será o candidato. Vamos enfrentar uma candidata que não tem nenhuma experiência eleitoral, nunca participou de eleição, e não é propriamente conhecida pela sua simpatia.

ISTOÉ

Mas ela tem a popularidade do Lula.

Tasso Jereissati

É importante. A própria sigla, o PT, tem um percentual cativo de votos, seja qual for a circunstância. Mas ela não é o Lula e, na hora em que a eleição entrar num processo definitivo, de contraponto, vai prevalecer muito um candidato contra o outro. E acho que a Dilma não tem experiência política para assumir o País. É preciso muita habilidade para dirigir um país como o Brasil. A candidata do PT não conhece o Brasil com profundidade. Falta a ela visão de uma administração descentralizada e me preocupa muito essa tendência da Dilma ao autoritarismo.

ISTOÉ

Qual a leitura que o sr. faz do crescimento de Dilma nas últimas pesquisas?

Tasso Jereissati

Não é surpresa que a candidata do PT, Dilma Rousseff, tenha crescido. Ela absorve parte dos votos tradicionais do PT, além daqueles que o Lula transfere. Dilma também se beneficia de uma campanha que já dura dois anos e que ela está fazendo totalmente sozinha, sem adversário, o que a superexpõe na mídia sem nenhum contraponto. E nós não colocamos nosso bloco em campo. Qualquer poste nessas condições também teria avançado.

ISTOÉ

Há campanha antecipada?

Tasso Jereissati

A máquina pública está sendo usada ilegalmente. Só os tribunais eleitorais não percebem essa campanha explícita. Até no Senado já montaram um palanque para a ministra Dilma. A experiência do nosso candidato, a administração que ele tem feito e sua longa história política jogam a nosso favor. Também acho que vai pesar muito o fato de que este é um governo que mais escândalos produziu nos últimos anos. Toda semana tem um escândalo. Isso já está praticamente institucionalizado no governo do PT.

ISTOÉ

O governador José Serra está demorando para oficializar a candidatura ao Planalto?

Tasso Jereissati

Acho que o Serra demorou. Estive com ele em novembro e disse que era um erro ficar apenas assistindo, mesmo com todas essas inconveniências. O problema é que você cria no País o clima de uma candidatura só. Com a nossa candidatura encolhida, o entusiasmo vai para o outro lado. Enquanto isso, a nossa campanha vai murchando. É como se, num jogo, a torcida adversária estivesse num clima de festejo e a nossa de moral baixo, deixando o estádio antes de o jogo terminar. Isso é muito perigoso. O entusiasmo da militância é fundamental numa campanha. Esse erro foi cometido. Mas a gente tem que olhar para a frente. É reversível.

ISTOÉ

Há quem diga que Serra só teria a perder se antecipasse a campanha, uma vez que ele rivalizaria com o presidente Lula e não com Dilma. O sr. concorda com essa tese?

Tasso Jereissati

Não concordo. Demos chance para a candidatura de uma ilustre desconhecida ganhar espaço. Está na cara que isso aconteceu. Agora não adianta mais chorar o leite derramado.

ISTOÉ

O sr. ainda acredita na chapa Serra-Aécio?

Tasso Jereissati

Precisamos ter uma chapa que ganhe as eleições. Nem a candidata que está em campanha há dois anos anunciou seu vice. O que nós precisamos é ter logo o candidato na rua. É isso que vai construir essas alianças. A articulação em torno do vice é feita com o candidato na rua. Ele vai ter condições de, no momento certo, convidar a pessoa que vai ter mais capacidade de compor a sua chapa.

ISTOÉ

Esse nome pode ser Aécio?

Tasso Jereissati

Não acho provável. Impossível não é, pois durante a construção de um projeto que envolve a Presidência da República muitas coisas podem acontecer.

ISTOÉ

Ainda há tempo para a substituição de Serra por outro nome do PSDB?

Tasso Jereissati

Não trabalhamos mais com essa hipótese.

ISTOÉ

É possível uma chapa pura tucana tendo o sr. como vice?

Tasso Jereissati

Sou candidato ao Senado. E nunca houve nenhum convite, contato ou conversa para que eu fosse vice. Há outros excelentes nomes e a escolha deve ser orientada pela necessidade ou não de reforçar a campanha em determinado setor do eleitorado ou região do País. Mas insisto que não podemos ter o vice antes de ter o candidato na rua. É preciso ter primeiro o candidato.

ISTOÉ

Se Dilma Rousseff está em franca campanha ilegal, por que as ações da oposição no TSE ainda não tiveram êxito?

Tasso Jereissati

A Justiça está intimidada. Todo o Brasil está vendo. Há hoje um patrulhamento em cima de algumas decisões que possam ferir os interesses do governo. O governo tem uma capacidade de propaganda e comunicação grande. E usa isso para desvirtuar o mérito de qualquer questão. Qualquer decisão que fira os interesses do governo é logo tachada como não patriótica. Ou então se diz que tal decisão estaria a serviço de alguém. Quando o governo é alvejado por alguma denúncia, não se discute o mérito dela. Logo é colocada na praça uma contrapropaganda fortíssima acusando o jornalista e a empresa de estar a serviço deste ou daquele. Por exemplo, houve duas denúncias importantes nas últimas semanas. Uma delas, da própria ISTOÉ, envolve o coordenador de campanha da Dilma, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, com o Mensalão. A outra acusa o tesoureiro do PT. Não ouvi, até agora, nenhuma defesa com consistência. Só vimos contra-acusação.

ISTOÉ

Falta discurso e projeto de país para a oposição?

Tasso Jereissati

Nosso discurso é aquele que o presidente Lula renegou a vida inteira e se apropriou quando virou governo. Quem primeiro implementou uma política econômica baseada em metas de inflação, controle fiscal e câmbio livre foi o PSDB. Lula a aprofundou. Quem criou o Bolsa Família, como política social de transferência de renda, fomos nós.

ISTOÉ

Mas de que maneira vocês pretendem se diferenciar do atual governo e mostrar ao eleitorado que podem fazer mais e melhor?

Tasso Jereissati

Vamos mostrar na campanha que temos condições de fazer um governo sem roubo, sem escândalos e sem aparelhamento dos serviços públicos, com uma política externa mais equilibrada e maior eficiência nos serviços de saúde. Precisamos dar um salto de qualidade. Infraestrutura e educação precisam ser os elementos primordiais. Pretendemos fazer uma grande revolução na área educacional. Não é possível, por exemplo, não termos educação básica e fundamental de qualidade com esse cenário atual de economia pujante. É inaceitável que sejamos apenas o 65° no ranking da educação básica.

ISTOÉ

O sr. acredita que o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) manterá a candidatura a presidente?

Tasso Jereissati

Não sei o que o Ciro vai decidir, mas ele tem reiterado que vai ser candidato a presidente.

ISTOÉ

A alternativa Ciro é importante para o País e para o processo eleitoral?

Tasso Jereissati

Não temos tradição do bipartidarismo. Eu, particularmente, acho importante que a população tenha mais alternativas na hora de escolher seu candidato.

ISTOÉ

Em 2002, o sr. apoiou Ciro Gomes na eleição presidencial, mesmo depois de José Serra sair candidato. Há quem duvide do seu engajamento na campanha de Serra agora.

Tasso Jereissati

Eu voto no candidato do PSDB e vou trabalhar pelo candidato do partido. Em 2002, realmente aconteceu de eu apoiar o Ciro, mas as condições, naquele momento, foram muito especiais e particulares. Alguns erros foram cometidos na campanha do Serra, que espero não se repitam este ano, e havia uma candidatura que representava o sentimento de todo o Estado do Ceará. Hoje as circunstâncias são diferentes e já disse com muita clareza ao Serra que vou trabalhar pela candidatura do PSDB.

ISTOÉ

Mas a chapa que o sr. costura no Ceará com o governador Cid Gomes não deixa o Serra sem palanque no Estado?

Tasso Jereissati

Não estou costurando uma chapa com o Cid. Estamos estudando várias opções e há um consenso dentro do partido de que essa alternativa precisa aguardar um pouco os rumos da eleição presidencial, pelo fato de ter um candidato cearense, ligado ao governador do Estado, concorrendo à Presidência da República. O palanque do partido para a Presidência da República será do PSDB em qualquer circunstância. O palanque de Serra está assegurado. Dependendo das conveniências decorrentes da eleição nacional, os arranjos locais poderão ser diferentes.

ISTOÉ

Se a oposição perder esta eleição, o lulismo pode ficar 30 anos no poder, como vaticinou o ex-porta-voz do Planalto e cientista político André Singer?

Tasso Jereissati

Tenho convicção de que esse tempo passou na América do Sul. Houve algumas recaídas, como é o caso do chavismo. Há ainda uma tentativa, na Colômbia, de fazer um movimento personalista em torno do atual presidente. Mas na volta aos tempos de peronismo e getulismo, exemplos totalmente populistas, não acredito. Construímos uma sociedade moderna com instituições bastante sólidas. Temos uma classe média cada vez maior e mais politizada. Esses fatores não vão permitir o retorno desse tipo de populismo ou política populista baseada em personalidades.