Clique aqui para ler um capítulo do livro “As Mulheres de Freud” (Record), da escritora Lisa Appignanesi e do filósofo e historiador John Forrester

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“Se o homem Freud foi conservador, sua prática como psicanalista foi revolucionária”
Trecho do livro “As Mulheres de Freud”

Entre as acusações já feitas ao médico e criador da psicanálise, Sigmund Freud (1856-1939), a mais leve afirma que ele era um patriarca conservador do século XIX cuja visão do sexo feminino reduzia a mulher à função de “serva reprodutora da espécie”. Restrito ao Círculo Psicanalítico de Viena, composto por médicos e psiquiatras, todos homens, Freud supostamente compreendia o feminino como um gênero falho, “privado anatomicamente do falo que predestina o sexo masculino ao poder e ao comando”. Diante de interpretações como essas, os movimentos feministas mais radicais incendiaram a reputação de Freud a partir da década de 1970 e o colocaram no banco dos réus. Afirmavam que ele criara um modelo teórico universal para as mulheres motivado por sua própria misoginia. A recém-lançada publicação “As Mulheres de Freud” (Record), da escritora Lisa Appignanesi e do filósofo e historiador John Forrester, ambos ingleses, propõe uma revisão desses conceitos e para isso os autores investigaram e reconstituíram um outro círculo, o das mulheres que colaboraram e influenciaram os trabalhos de Freud ao longo de sua vida.

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Num extenso estudo de 727 páginas, bem escrito e bem traduzido, os autores descrevem, sem os habituais jargões específicos da área, os relacionamentos pessoais, intelectuais e profissionais que Freud manteve com um diversificado grupo de mulheres. Ao mesmo tempo que presta um tributo a elas, que foram grandes incentivadoras e colaboradoras do pai da psicanálise, o livro descortina biografias interessantes como a de Marie Bonaparte, sobrinha- bisneta do imperador Napoleão I e herdeira de uma grande fortuna que iria construir a glamourosa cidade de Monte Carlo, no principado de Mônaco. Ela frequentou o divã de Freud, com quem dividiu os seus diários íntimos e se tornou uma fundamental promotora de seu trabalho e grande difusora da psicanálise na França. O livro inicia a sua investigação pela família Freud através da relação do então jovem cientista com sua mãe, a esposa e as três filhas: Mathilde, Sophie e Anna. Dedica maior espaço a essa última, sua caçula, que seguiu a carreira do pai, assumiu a sua clínica em Londres e organizou o seu legado. Amiga ao longo de toda a vida, a sedutora Lou Andréas-Salomé conheceu Freud quando foi a Viena estudar psicanálise. Eles tiveram um longo romance e Lou tornou-se a analista de sua filha Anna. Frau Lou, como era conhecida, tinha muitos admiradores e também manteve casos com o filósofo Friedrich Nietzsche, o escritor Leon Tolstoi e o poeta Rainer Maria Rilke. “Uma mulher destituída da maioria das fraquezas humanas, de uma inteligência perigosa e notável”, escreveu Freud a seu respeito.

Uma outra discípula freudiana, Helene Deutsch, é uma das primeiras mulheres a se dedicar à psicologia feminina com estudos pioneiros sobre a frigidez. Socialista e defensora dos direitos da mulher, Helene desenvolveu um consistente trabalho clínico e pedagógico e teve Freud como um frequente interlocutor. A obra discorre ainda sobre as pacientes portadoras de histeria que atuaram como coautoras de seu clássico estudo sobre o tema. Os impasses e inseguranças que o pesquisador enfrentou ao longo dos tratamentos são divididos com amigas em cartas trocadas com assiduidade, algumas reproduzidas nesse relato que, assim, procura humanizar o mito Freud e dirimir controvérsias em que sempre esteve envolvido. “O Freud que figura aqui é médico, desbravador, descobridor e, acima de tudo, ouvinte e narrador. Se o homem Freud foi conservador, sua prática como psicanalista foi revolucionária”, afirmam os autores. 

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PIONEIRA
Anna O. colaborou nas pesquisas sobre histeria feminina
 

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PACIENTE
Emma Eckhert sofria de compulsão sexual e manteve com Freud uma ambígua relação

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AMIGA
Helene Deutsch era feminista e interlocutora frequente de Freud. Ele a definia como “a primeira mulher moderna”

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AMANTE
A psicanalista Lou Andréas-Salomé teve um romance com Freud, que lhe atribuía “inteligência perigosa”

 

 

 


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