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CINEMA Falcão se inspirou em Indiana Jones

O brasileiro Alberto Santos Dumont (1873-1932), pai da aviação, foi um ávido leitor das histórias fantásticas do escritor francês Júlio Verne (1828-1905). Os vôos de balão descritos nos livros Viagem ao redor da Lua e Volta ao mundo em 80 dias marcaram a infância de Santos Dumont e o teriam influenciado em sua vocação de inventor. Na última década de vida de Verne, que morava em Paris, o aviador brasileiro também esteva lá. Foi essa coincidência que levou o jornalista e publicitário paulista Aluizio Falcão Filho a se perguntar se eles não haviam se encontrado. "Santos Dumont era um grande admirador de Júlio Verne e acredito que veio dessa admiração a sua paixão por aviões", diz Falcão. Ele realizou uma ampla pesquisa, mas admite que não localizou registros históricos desse encontro.

Se eles se conheceram ou não, agora pouco importa. Essa simples hipótese já é, em si, uma grande idéia para uma ficção. É assim que foi construído o romance O jornalista, o escritor e o aviador (Editora Clio, 382 págs., R$ 39,90), primeiro livro de Aluizio Falcão Filho, no qual é narrada "uma amizade" entre Verne e Santos Dumont, numa combinação de fatos imaginados com dados biográficos reais sobre ambos. Eles teriam desenvolvido uma fórmula semelhante à da bomba atômica, antecipando uma descoberta que só ocorreria de fato 40 anos depois. Confiando nas convicções humanistas de Santos Dumont, antes de morrer Verne lhe pede para guardar sigilosos documentos – e eles são bem escondidos para nunca mais serem encontrados. É aí que entra na história John Dellaplane, outro protagonista. Trata-se de um jornalista americano famoso, ganhador de dois prêmios Pulitzer e que cai em absoluto descrédito ao escrever uma reportagem com informações falsas. Pouco tempo depois, no entanto, ele ganha uma fortuna na loteria. Por sugestão de seu irmão, decide embarcar numa grande pesquisa: descobrir as provas do encontro entre Santos Dumont e Júlio Verne.

ALAN RODRIGUES / SIPA PRESS

POSSÍVEIS AMIGOS A admiração mútua e as convicções humanistas uniram, na ficção, Santos Dumont (à esq.) e Júlio Verne

O jornalista e sua equipe enfrentam diversos obstáculos, desde a espionagem industrial até ataques terroristas. Com muitas referências ao rock e à música pop, Falcão entrelaça duas histórias: uma protagonizada por Dellaplane e a outra, por Santos Dumont. A trama se desloca de Boston, nos EUA, para a Paris do início do século XX, numa transição feita sem grandes sobressaltos, o que confere dinamismo à leitura. A parte contemporânea da história vai crescendo em adrenalina com recursos típicos do cinema. "A busca dos documentos me fez lembrar Os caçadores da arca perdida", diz Falcão, referindo-se a um dos primeiros filmes da série estrelada pelo ator Harrison Ford. Ao final da leitura, o leitor será esclarecido sobre o que existe de real e de fictício. É importante redobrar a atenção nos nomes dos personagens: nenhum deles foi escolhido aleatoriamente.