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O GENERAL Parceria com o Brasil no projeto dos biocombustíveis

Em abril o vizinho Paraguai irá eleger um novo presidente e pela primeira vez em mais de 60 anos são grandes as possibilidades de o Partido Colorado perder o poder. Para o Brasil, essa é uma notícia boa e, ao mesmo tempo, preocupante. É boa porque foi sob a vista grossa dos colorados que nas últimas seis décadas nossos 800 quilômetros de fronteira seca se transformaram em trilhas de contrabando e tráfico de drogas e de armas que fomentam o crime organizado. Os candidatos que lideram as pesquisas, o general da reserva Lino Oviedo, com 31,5%, e o bispo católico Fernando Lugo, com 27,5%, prometem combate incansável ao contrabando e ao tráfico. O lado preocupante da sucessão paraguaia reside na Usina Hidrelétrica de Itaipu. No ano passado, a gigante binacional gerou 92,6 milhões de megawatts/hora, quantidade suficiente para suprir o consumo de energia elétrica gasta em todo o Brasil durante 81 dias. Hoje, a energia gerada em Itaipu é dividida meio a meio. O Brasil tem direito a 50% e o Paraguai aos outros 50%. O problema é que o Brasil consome a sua metade e compra mais 45% da metade paraguaia, por cerca de US$ 240 milhões anuais. É esse valor que os presidenciáveis paraguaios prometem alterar.

JORGE SAENZ/AP

O BISPO A favor do reajuste de pelo menos sete vezes no preço da energia

Aliado do venezuelano Hugo Chávez, Lugo, que deixou a batina para entrar na vida política, se apresenta aos paraguaios com um discurso que o coloca como um Evo Morales no calcanhar do Brasil. "Vamos exigir do Brasil um reajuste de pelo menos sete vezes no valor pago pela energia de Itaipu. Caso não haja concordância, poderemos até paralisar parte da usina", ameaça o candidato. Se conseguir colocar seu plano em prática, os US$ 240 milhões anuais pagos pelo Brasil ao Paraguai subiriam para US$ 1,7 bilhão. Em Brasília, o discurso do bispo provocou reação imediata. Na semana passada, o presidente Lula manteve contatos reservados com o colega paraguaio, Nicanor Duarte Frutos, para comprar energia antecipadamente. Já Oviedo tem demonstrado outra postura. Perseguido político em seu país, obteve asilo no Brasil, onde permaneceu por 18 meses. Voltou ao Paraguai e ficou três anos preso, até ser inocentado das acusações impostas pelos colorados, entre elas a tentativa de golpe de Estado e de assassinato do ex-vice-presidente Luis María Argaña. "Do Brasil quero apenas parceria. Vamos rever os preços da energia, mas de comum acordo. Nossa prioridade é integrar as terras paraguaias ao projeto brasileiro dos biocombustíveis", afirma o general. Em resposta às propostas do general, o bispo diz que ele é um candidato verdeamarelo. "Me orgulho disso", diz Oviedo. "Quero ver o Paraguai como o Paraná, Mato Grosso ou São Paulo."