O aneurisma é um dos mais traiçoeiros problemas que podem ocorrer no cérebro. Caracterizado por uma dilatação anormal de uma das artérias que irrigam o órgão, ele pode se romper, causar hemorragia e matar. Tudo isso de repente, e sem que ninguém nunca suspeitasse de sua existência. Por isso, há um empenho muito forte da medicina para encontrar melhores formas de diagnosticá-lo e de tratá-lo. Uma das boas notícias na área é a utilização do stent, um recurso muito conhecido e bastante usado na cardiologia para “empurrar” as placas de gordura depositadas nos vasos sangüíneos do coração.

No tratamento dos aneurismas, esse artefato é empregado para aprimorar uma técnica que vinha sendo usada com sucesso mas tinha algumas limitações. Há alguns anos, sempre que possível, os médicos recorrem à introdução de uma espiral de platina no local da deformidade. Ela é levada por cateter até o ponto desejado. Lá, estimula a formação de coágulos, fechando a “bolha”. Porém, essas espirais muitas vezes não ficam no lugar, principalmente se o aneurisma for grande. E cerca de 30% a 40% dos casos se encaixam nessa categoria. E é aí que entra o stent, conduzido até o local também por meio de cateter. “Ele funciona como sustentação para que as espirais fiquem dentro do aneurisma, serve de malha para o crescimento de células que cobrirão seu orifício e facilita o fluxo sangüíneo”, explica o neurocirurgião Ricardo Hanel, da Clínica Mayo, um dos principais centros de referência médica dos Estados Unidos.

Esse recurso já vinha sendo aplicado. A novidade agora é a confecção de um stent bastante apropriado para o cérebro. Isso é muito importante porque os vasos cerebrais apresentam diferenças em relação aos cardíacos e exigem cuidados especiais. Por exemplo, eles possuem mais células musculares e menos fibras elásticas. “Isso os torna mais frágeis”, afirma Hanel. Além disso, para alcançar a circulação intracraniana, é preciso passar pela base do crânio, onde os vasos estão fixos aos ossos e fazem muitas curvas. Essa característica dificulta a passagem dos stents do pescoço até a região onde deve ser colocado. O risco de traumas ou de rompimento dos vasos é grande. Tratando- se do cérebro, qualquer acidente deste gênero pode ser devastador.

Entre outras características, o novo stent cerebral é mais flexível e por isso mesmo mais fácil de ser levado até o local do aneurisma. Também tem um sistema de abertura dentro do vaso sangüíneo que diminui o risco de traumas. Mas os médicos querem ir além. “Espero que, num futuro próximo, exista um stent que funcione sozinho, sem a necessidade das espirais”, afirma Hanel.