REMO Os cariocas Camelos vencem a correnteza no trecho de duck (caiaques infláveis) da prova

Uma movimentação diferente agitava a Praia da Urca, no Rio de Janeiro numa noite de domingo do fim de outubro. De coletes salva-vidas e remo nas mãos, 220 atletas aguardavam com ansiedade por uma semana de muita ralação. A expectativa era para a largada do Ecomotion/Pro 2007, a maior corrida de aventura da América Latina. Dormindo muito pouco, 55 quartetos percorreriam 444 quilômetros no Estado do Rio de Janeiro, alternando as modalidades de trekking, mountain bike, remo e cavalgada, guiando-se apenas através de mapa e bússola.

O objetivo era percorrer os 27 postos de controle até a chegada na cidade de Búzios, no norte do Estado. Em sua quinta edição, o Ecomotion/Pro, que integra o calendário mundial de corridas de aventura há três anos, reuniu equipes de 15 países, incluindo todas as grandes nacionais como a Motorola SOS Mata Atlântica, Atenah Natura, E.C.P. Selva NSK Kailash, Oskalunga Sundown e Mitsubishi Quasar Lontra, além de nomes internacionais de peso, como os campeões da edição 2006, Team Vivo Sole de Paul Romero, os espanhóis da Buff Coolmax que faturaram a edição de 2005, os vice-campeões mundiais franceses Wilsa Hellyhansen e os neozelandeses, pais do esporte, da Team Merrel/Wigwam.


 

Assine nossa newsletter:

Inscreva-se nas nossas newsletters e receba as principais notícias do dia em seu e-mail

FORÇA O tempo mudou de repente e o frio e a neblina pegaram os atletas de surpresa

 
 

Às 23h, foi dada a largada. O trecho inicial de 48 quilômetros de remo em caiaques duplos pela Baía de Guanabara até o rio Guapimirim aconteceu numa noite de luar, com vento fonte e mar agitado, já prenunciando uma mudança no clima. Remando ao lado de cargueiros, sob a ponte Rio-Niterói, os competidores nem imaginavam o que a chegada do dia iria revelar. A maré secou, e o que era água se transformou num grande lamaçal, atolando os caiaques e segurando os atletas pelas coxas. Cada quarteto buscava uma tática melhor para seguir adiante na prova.

Sem definição de posições, as equipes pegaram as suas bikes no segundo posto de controle na manhã de segunda-feira para um trecho de 46 quilômetros rumo à cidade de Teresópolis. Os gringos, sempre favoritos, ainda não haviam formado um pelotão da frente, e a Motorola SOS Mata Atlântica e Try On Landscape ajudavam a compor o grupo das dez primeiras junto com os suecos da Bjufors Adventure Racing. O calor judiava dos franceses e neozelandeses durante a subida de 23 quilômetros de mountain bike para o quarto posto de controle. "Ainda era o começo, mas a prova estava boa para os brasileiros até esse momento. Passamos pelos espanhóis da Gaellecia Bugarent, que estavam sofrendo com o calor", relembra Shubi Guimarães, capitã da equipe Atenah Natura

DESAFIO Francisco Javier Lopez Costoya, da equipe campeã, Buff Coolmax

Para o próximo trecho, como manda o regulamento da prova e a experiência no esporte, os atletas partiram para os 42 quilômetros de trekking no Parque Nacional da Serra dos Órgãos bem equipados, mas não o suficiente para uma mudança tão brusca no tempo, como avisava a ventania no mar. Uma frente fria chegou com muita força na serra fluminense, trazendo chuva, frio, neblina e pegando a grande maioria das equipes nas maiores altitudes do parque. Os quartetos importados, como a americana Team Vivo Sole, a espanhola Buff Coolmax e a neozelandesa Orion Health, já tinham feito a pior parte antes do temporal e chegaram até a comida quente preparada por sua equipe de apoio em Petrópolis durante a madrugada. O grupo de equipes brasileiras que estavam entre o sexto e o décimo lugar se uniu para se abrigar dentro de uma gruta, pois o frio começava a ficar insuportável.

FOTOS: ECOMOTION/PRO/2007/DIVULGAÇÃO

A equipe Oskalunga Sundown, de Brasília, rapidamente se separou do grupo. Enquanto todas estavam quase dormindo, eles arriscaram e conseguiram achar a trilha da descida da serra. "Na quele momento de desespero máximo, enxergamos uma oportunidade de pular na frente. Tínhamos como objetivo ser a melhor equipe brasileira na prova e tomamos essa atitude pensando nisso", explica o navegador Guilherme Pahl. Apesar de ser apenas a segunda noite, e muita água ainda poderia rolar numa prova expedicionária, ela foi praticamente definida ali, com a Buff Coolmax, da capitã Emma Roca, pulando da sétima para a primeira colocação no final do trekking. Pouca coisa se alteraria para esse pelotão da frente. Os brasilienses da equipe Oskalungas Sundown ainda esboçaram um duelo com os quartetos mais próximos, mas preferiram se preservar para manter a liderança entre as brasileiras. "Fomos conservadores em geral, pois além de tudo era a nossa primeira prova com aquela formação", relembra Pahl.

LAMA Chuva dificultou o trecho de bike da equipe The Hunters na prova


O temporal se arrastou pelos próximos três dias, e na metade da prova não havia uma única peça de roupa seca e nenhum pé sem bolhas. O rapel e a tirolesa das sessões de técnicas verticais no Parque dos Três Picos tiveram que ser cancelados por causa das chuvas e raios. Essa baixa não deixou a prova menos diversificada. As equipes cumpriram 26 quilômetros a cavalo entre as Cachoeiras e Macacu e Theodoro, e algumas fizeram uma prova especial de 19 quilômetros em carrinho de rolimãs pela ferrovia entre Casemiro de Abreu e Rio Dourado, antes de a modalidade ser interrompida.

O trecho final de 36 quilômetros de remo aconteceu também debaixo de uma tempestade, e com vento muito forte. Antes de chegar à praia dos Ossos, em Búzios, a campeã Buff Coolmax enfrentou ondas enormes e chegou a contatar a organização da prova pelo rádio. Assustados com as condições do mar, tiveram foco para seguir remando e completar a prova depois de 74 horas, levando a premiação de US$ 35 mil para a Espanha. "Senti muito medo, não dava para enxergar nada, e as ondas chegavam a quatro metros. Foi assustador, mas desistir é uma palavra que não faz parte do meu vocabulário", contou, feliz com a vitória, a capitã Emma.

A francesa Wilsa Hellyhansen levou para casa os US$ 10 mil da segunda colocação, chegando uma hora e meia depois da Buff.

As duas equipes já garantiram vaga no Ecomotion/ Pro 2008, que no próximo ano irá definir o campeão do circuito mundial de corrida de aventura, o ARWC (Adventure Race World Championship). A equipe brasileira mais bem colocada, os brasilienses da Oskalunga Sundown, concluiu a prova na manhã do dia seguinte, 12 horas depois da primeira, ficando com o sétimo lugar. As canarinhas E.C.P. Selva NSK Kailash, Atenah Natura e Mitsubishi Salomon Quasar Lontra completaram o ranking dos dez primeiros da competição. No total, 36 equipes cruzaram a linha de chegada do Ecomotion/Pro 2007 durante os cinco dias de prova.


Siga a IstoÉ no Google News e receba alertas sobre as principais notícias