ALEXANDRE SANT’ANNAA agilidade do mundo globalizado e industrial tem produzido um fenômeno que é a procura pelo seu contrário. Ou seja, pelo que não é produzido em série. Na moda, isso significa a valorização do estilo artesanal, que tem se destacado mais recentemente. São peças que exigem um bom tempo para ficar prontas porque são costuradas uma a uma, feitas com retalhos e crochês, entre outros detalhes. “Tem biquíni que leva 15 horas para ser bordado”, diz Patrizia D’Angello, estilista da marca Miquelina, cujos modelos chegam a custar cerca de R$ 300. Haja trabalho! “Algumas blusas ou vestidos consomem até seis dias só com o bordado e a montagem”, conta Gisele Barbosa, da grife que leva seu nome. É bom lembrar que artesanal não é sinônimo de customização (a personalização das roupas). Esse tipo de moda inclui costura, mistura de tecidos e texturas, rabiscos de linha e diversos tipos de apliques em roupas ou acessórios, tudo feito manualmente.

Para quem aderiu à mania, o artesanal dá um toque diferenciado à silhueta. “É hora de revirar o baú da vovó, rever a técnica, mas oferecer algo quase único”, comenta Patrizia, que foi estilista da Blue Man durante sete anos. E as clientes aprovam. Segundo ela, basta observar as reações em sua loja em Ipanema, na zona sul carioca: “As mulheres ficam loucas. Perguntam se é mesmo bordado à mão.” Nem tudo é bordado, claro. A estilista Aline Rabello, da Homem de Barro – que prefere dizer que faz “moda beneficiada” –, trabalha também com “montadoras”, nome dado às funcionárias que preparam as roupas, peça por peça, na fábrica. “Já começa no corte, que tem muita mistura de tecidos e não pode ser industrial”, explica ela.

Todos esses cuidados encarecem o produto. Às vezes, o preço triplica. Mas isso não impede a moda artesanal de vender muito bem. “Fica mais caro porque passa por várias etapas e consome muita mão-de-obra”, arremata Aline. Gisele Barbosa tem mais de 400 bordadeiras, a maioria de Minas Gerais, e nenhuma máquina de costura no ateliê. “As pessoas falam que as vitrines estão todas iguais e que elas querem o que não vêem nas outras lojas”, afirma ela, que já exporta para o Japão e a Austrália, além de fazer figurino para produções da Rede Globo. “Estamos virando a noite para atender a todos”, revela.


DELICADEZA Peças como a camiseta com fuxicos ou o biquíni bordado exigem atenção especial na montagem

Com um ano no mercado, as primas Bianca e Júlia Lovell Parker, de 23 e 25 anos respectivamente, também não estão dando conta da demanda. “Temos lista de espera”, disse Bianca, que comercializa suas peças por meio da marca Eu com Elas. De acordo com a estilista, o sucesso dessa moda se deve à exaustão atual com as roupas praticamente padronizadas. Hoje, em suas palavras, os consumidores querem exclusividade: “Isso passa valor.” Este não é um movimento exatamente novo. Nos anos 70 as pessoas também ansiavam por algo fora do padrão, inclusive nas roupas. Como a moda é um segmento que canibaliza eternamente as décadas passadas, então viva os anos 70. Mais uma vez.

Agradecimentos: Tais Tavares – Ag. 40 Graus/Models