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COMO NOS VELHOS TEMPOS Lula reúne sindicalistas e arranca elogios de antigos companheiros ao criticar demissão em montadoras

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva entrou com olhar apreensivo na reunião com representantes das centrais sindicais, na tarde da segunda-feira 19, depois de o governo confirmar mais de 650 mil demissões em dezembro. “Estou muito preocupado. A crise afeta o emprego em vários setores”, disse. E chamou para si a tarefa de buscar soluções: “Estou assumindo pessoalmente o problema, as ações serão centralizadas aqui comigo.” Ao colar sua imagem ao desafio de evitar demissões, o presidente põe em risco os 80% de popularidade que acumulou nos últimos seis anos. E deixou isso bem claro. “Vamos fazer um grande programa de habitação, baixar os juros, mas se essas medidas não derem certo, aí a gente vai sifu…”, disse. O presidente da Força Sindical, deputado Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, completou: “Então, vai ser o sifu dois.” A empreitada de Lula é, de fato, uma faca de dois gumes. Pode prejudicar a estratégia de fazer o sucessor em 2010, mas, de outro lado, se vitoriosa, consolidará sua avaliação positiva. “O Lula está certo em assumir o desafio”, afirma Marcos Coimbra, do Instituto Vox Populi. “Ele tem muita gordura para queimar. E se a economia melhorar em seis meses, muita gente vai dizer ‘foi o Lula’.”

O envolvimento direto de Lula no enfrentamento da crise anima o empresariado. “Com a liderança do Lula, as medidas têm contundência e velocidade maior. Precisamos de rapidez”, diz Jackson Schneider, presidente da Anfavea (Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores). Ele só não gostou das ameaças do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, que prometeu punir empresas que estão demitindo. “Ameaça é ruim para quem faz e quem ouve, precisamos de serenidade”, diz. Sérgio Reze, presidente da Fenabrave (Federação Nacional dos Distribuidores de Veículos Automotores), elogia a iniciativa de Lula de ouvir as centrais sindicais e agora espera que o Palácio do Planalto também amplie o universo de consulta ao meio empresarial. “O presidente não pode se basear apenas na opinião de pessoas que olham só o seu negócio”, diz Reze, que prevê um primeiro semestre difícil, com recuperação das vendas no segundo semestre.

Na reunião com sindicalistas, Lula lamentou que o governo tenha reduzido o IPI dos carros populares para alavancar as vendas, mas não tenha havido compromisso de preservar empregos por parte de algumas empresas. Outro setor que preocupa o presidente é o dos bancos. Segundo um integrante da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), a perspectiva é de demissões no setor, devido às grandes fusões. Lula não poupou impropérios ao criticar a falta de uma política mais agressiva dos bancos, inclusive os oficiais, quanto à redução dos spreads e das tarifas bancárias. “Estou p… com esses caras do Banco do Brasil, não é possível um negócio desses. A crise é basicamente de juros, do custo do crédito”, disse o presidente, segundo sindicalistas relataram à ISTOÉ. “Quero saber exatamente como está a situação de cada central sindical, quero um diagnóstico claro dos trabalhadores, vamos chamar os responsáveis pelos maiores projetos de investimento privado para saber quem está e por que está suspendendo investimento”.

Paulinho não esconde sua emoção ao ver Lula assumindo as rédeas contra a crise: “Parece o Lula sindicalista que ia para as fábricas que tinham demitido, quando seus amigos perdiam emprego e ele sabia da dificuldade que isso significa para uma família.” Segundo ele, é um jogo de risco, mas o presidente não pode deixar essa tarefa “nas mãos de pessoas que não sabem fazer as coisas”. O presidente nacional da CUT, Arthur Henrique da Silva Santos, também aplaude a iniciativa do presidente: “Pela própria liderança, popularidade, o Lula tem que ser o timoneiro dessas preocupações da sociedade.” É exatamente isso que o presidente da República está fazendo. Ciente dos riscos que corre.