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A decisão do ex-governador Geraldo Alckmin de aceitar um cargo no governo do ex-rival José Serra deu vida à máxima do deputado e escritor modernista brasileiro Menotti Del Picchia (1892- 1988) que dizia que a política é a arte de conciliar os interesses próprios, fingindo conciliar os dos outros. Pelo menos esse é o entendimento dos tucanos anti-Serra que receberam a notícia de que Alckmin seria o novo secretário de Desenvolvimento do Estado. Tratada como segredo de confessionário até a segunda-feira 19, a mais nova jogada de "Serrinha Paz e Amor" foi costurada pelo vicegovernador, Alberto Goldman, que alinhavou durante duas semanas o acordo. Em campos opostos desde as eleições presidenciais de 2006, Alckmin viu-se nos últimos dias diante de uma sinuca de bico. A verdade é uma só, segundo os tucanos próximos ao ex-governador: caso José Serra perca a disputa interna no partido para a disputa presidencial, o primeiro a ter suas pretensões políticas anuladas seria o próprio Alckmin, que teria de se contentar com um mandato parlamentar, já que Serra iria à reeleição e não daria espaço para Alckmin no PSDB. E mais: o próprio Alckmin sabe que sua ida para outra agremiação não teria a mesma força que no ninho tucano.

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Fiel escudeiro de Alckmin, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, sentiu-se traído e não digeriu o que chamou intramuros de "atropelo paulista", a tentativa de se criar um fato consumado para as eleições de 2010. Aécio promete agir para devolver a cartada na mesma moeda. Para mostrar que está no jogo e que não vai tolerar imposições, o governador de Minas articula a realização – ainda para o segundo semestre deste ano – das chamadas prévias partidárias, instrumento no qual os filiados ao PSDB escolheriam o nome do candidato tucano à cadeira de Luiz Inácio Lula da Silva. Para isso, Aécio conta com o apoio do presidente nacional do partido, senador Sérgio Guerra (PE), com quem esteve reunido na quarta-feira 21. Na verdade, o tucano mineiro tem dito que "decisões de restaurante, nunca mais". A expressão refere-se à atabalhoada maneira como a cúpula do PSDB tentou impedir a candidatura de Alckmin a presidente da República.

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LANCE OUSADO
De olho no seu futuro político, Alckmin compõe-se com Serra

A reportagem de ISTOÉ ouviu 23 dos 27 presidentes estaduais do PSDB sobre a celeuma e quis saber dos dirigentes regionais qual o melhor critério a ser adotado pelo partido para a escolha de seu candidato à Presidência da República, em 2010. "Haverá duas alternativas: a primeira, de entendimento entre nossos potenciais candidatos. Segundo, na falta desse entendimento, uma prévia aberta, aceita, tranquila, de todos nós para a escolha de um candidato", admite o senador Sérgio Guerra. Na pesquisa de ISTOÉ, 18 líderes regionais do PSDB concordam com Guerra e votam a favor de prévias, caso não haja uma convergência quanto a um nome. Cinco representantes estaduais são contra a ideia da consulta popular. "Ainda não fomos procurados para opinar, mas acho as prévias importantes para que todos sejam ouvidos", defendeu o prefeito de Duque de Caxias e presidente do PSDB-RJ, José Zito. Dos dirigentes favoráveis à consulta, nove, embora acreditem no consenso, também aceitariam submeter os presidenciáveis do partido ao crivo da militância tucana, caso um acordo não seja possível. "Acredito que haverá uma solução negociada, mas as prévias são uma experiência nova que poderá dar certo, caso não cheguemos a um consenso", disse o ex-senador Geraldo Melo, presidente do PSDB-RN. Os cinco contrários à tese da enquete temem que o partido possa sair ainda mais dividido. "O grande desafio é manter a unidade partidária depois das prévias", diz Carlos Mata Lima, presidente do PSDB no Ceará. "Se houver dúvidas sobre a legitimidade da escolha, convocaremos as prévias nas quais os filiados ao PSDB serão ouvidos", prometeu Guerra a Aécio, a despeito das resistências do PSDB de São Paulo. "Tomar decisões agora sobre um processo de escolha de candidaturas que só ocorrerá no ano que vem seria, a nosso ver, imprudente e impertinente", disse José Henrique Reis Lobo, que comanda o tucanato paulista. Para o governador de Minas, no entanto, não há por que temer o sistema de escolha. "Acho natural que o PSDB regulamente as prévias, que já são previstas inclusive no seu estatuto, e as utilize havendo necessidade. Acho que não devemos temê-las", disse Aécio. Quem se identifica ao pensamento do governador é o líder dos tucanos no Acre. Lá, o PSDB, em 2006, consultou seus militantes para ver quem iria disputar o governo do Estado. "Temos que deixar de ser um partido de burocratas e pôr os pés no chão", entende Tião Bocalom (AC).

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"Acho natural que o PSDB regulamente as prévias. Não devemos temê-las"
Aécio Neves

Na conversa com Guerra, Aécio foi direto ao dizer que, se a disputa resvalar na deslealdade, seu grupo político pode até se ver obrigado a partir para outros objetivos. Pediu liberdade para se movimentar internamente e recebeu carta branca. "Precisamos das prévias para fazer uma disputa leal, que oxigene o partido. Não vamos aceitar acordo de cúpula", disse o deputado Narcio Rodrigues (MG), aliado de Aécio. "Se ficarmos desconfortáveis, se nos tirarem do jogo, seremos obrigados a buscar outros caminhos", acrescentou. Ninguém diz abertamente, mas por "outros caminhos" entendese voltar a flertar com o PMDB, que já convidou Aécio a se filiar para disputar a Presidência em 2010. "O PMDB estará sempre de portas abertas para um quadro como Aécio", repete o líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN). Apesar de o PSDB paulista considerar improvável a saída de Aécio, o governador mantém sua ponte com o PMDB. De olho em 2010 e para "conciliar os interesses próprios", tanto Aécio como Serra resolveram trabalhar para que Sarney ganhe a eleição para a presidência do Senado, que acontecerá na segunda- feira 2 de fevereiro.