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As badaladas competições da última Olimpíada ficaram para trás, os holofotes se apagaram e, depois de um decepcionante desempenho em Pequim, os atletas da ginástica artística brasileira em nada lembram os heróis esportivos de antes. Sua modalidade mergulhou em uma crise sem precedentes. Pelo menos quatro meninas voltaram contundidas da China, o técnico ucraniano Oleg Stapenko deixou a seleção feminina e retornou para o seu país e a maioria dos ginastas está sem patrocinadores. O caso mais grave é o de Jade Barbosa, que ganhou ouro nos Jogos Pan-Americanos do Rio de 2007 na competição de salto, além de prata por equipes e bronze no solo. Ela veio de Pequim com uma grave lesão do punho e, por falta de patrocínio, não tem nem sequer como pagar os remédios. Teve que dar autógrafo e uma camisa do Flamengo, clube onde treina, em troca de medicamentos. "A essa altura, é constrangedor depender da boa vontade das pessoas", lamenta. "Ninguém se manifesta. Nem o Comitê Olímpico nem a Confederação (Brasileira de Ginástica), nem o Ministério dos Esportes." Os salários que deveria receber do Flamengo estão com atraso de um ano. Para piorar, na quarta-feira 21, o clube anunciou que não renovará os contratos de Jade e dos irmãos Danielle e Diego Hypólito.

Tradicionalmente, os períodos entre uma grande competição e outra são difíceis e a crise econômica mundial piorou o quadro. Por causa desses dois fatores, Danielle Hypólito já imaginava que o início de 2009 não seria bom. "Mas está sendo bem pior do que esperava", avalia ela, que perdeu três patrocinadores. Seu irmão, Diego Hypólito, se mostra mais otimista e espera que o Flamengo mantenha o projeto olímpico. A temporada de dificuldades coincidiu com o período de transição na Confederação Brasileira de Ginástica, que está prestes a mudar de presidente. Há também problemas estruturais. Os clubes investem pouco em novos valores, pois, quando um atleta se destaca, acaba integrado à seleção permanente e a agremiação não ganha nada. Além disso, há o risco de que os competidores voltem machucados, como aconteceu na última Olimpíada.

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Além de Jade, também Daiane dos Santos e Laís de Souza competiram contundidas em Pequim e estão sem patrocínio. "Já conquistamos tantas vitórias para o Brasil e agora somos tratados com essa falta de respeito", reclama Jade. "Depois, cobram medalhas." Enquanto não começa uma nova competição de alto nível, os atletas da ginástica artística ficam na sombra, tentando manter a forma como podem.

 

FOTOS: ALEXANDRE SANT’ANNA/AG. ISTO É; QILAI SHEN