Clique aqui para ler um trecho do livro "A estrada", escrito por Cormac McCarthy e adaptado ao cinema em filme protagonizado por Viggo  Mortensen

Clique aqui para ler um trecho do livro "Ilha do medo", escrito por Dennis Lehane e adaptado aos cinemas pelo diretor Martin Scorsese

chamada.jpg
FIM DO MUNDO
Viggo Mortensen e Kodi Smith-McPhee em “A Estrada”

Não faz muito tempo, se algum diretor americano quisesse garantir o orçamento de seu filme e ainda ter em mãos uma boa história, era só recorrer, por exemplo, aos enredos do escritor Stephen King. Autor de best-sellers e dono de um público cativo, seu nome nos créditos era garantia de sucesso. Outros escritores cotados em Hollywood nessa mesma época eram John Grisham, um especialista em tramas judiciais, e Michael Crichton, cujas obras tratavam dos perigos da tecnologia. Mas os tempos passam – e os temas dos filmes também. Uma rápida seleção de escritores hoje em alta na capital do cinema revela um time de profissionais com preocupações diferentes. É claro que King continua sendo solicitado. No entanto, os longas saídos de seus livros não causam o mesmo impacto. O contrário se dá com um romancista contemporâneo seu, mas que não despertava tanto interesse: Cormac McCarthy.

img.jpg

Suas narrativas sombrias, como aquela vista em “Onde os Fracos Não Têm Vez”, filmada pelos irmãos Coen e ganhadora de quatro Oscar, mostram um mundo carente de valores e à beira da barbárie. “A Estrada”, ficção científica baseada em outro de seus livros e que estreia no Brasil no próximo mês, apresenta uma situação pós-apocalíptica, em que um pai luta para garantir a sobrevivência de seu filho. Há alguns anos, esses assuntos não estavam na pauta do cinema americano. No cenário de medo e incertezas gerados pelo terrorismo e pelas tragédias naturais, passaram a fazer sentido. A corrida aos romances de McCarthy está no auge. À frente encontra-se o diretor australiano Andrew Dominik, que garantiu os direitos de “Cidades da Planície”, baseado no livro homônimo de 1998. Trata-se do último volume da “Trilogia da Fronteira”, que usa os signos do faroeste para retratar um microcosmo específico: a fronteira entre os EUA e o México. Outra trama de McCarthy a chegar às telas é “Meridiano de Sangue”, passado na mesma zona de conflito, só que no século XIX. O cineasta americano Todd Field venceu a queda de braço com Ridley Scott para dirigir a produção, prevista para 2011.

img2.jpg

Apesar do assédio, McCarthy foi descoberto tardiamente por Hollywood. Aos 77 anos, ele tem apenas dez livros publicados e costuma escrever em um ritmo não tão ágil quanto aquele desejado pela indústria do cinema. Esse tipo de problema não ameaça a ascendente carreira do americano de origem irlandesa Dennis Lehane, 45 anos e nove livros no currículo. É de sua autoria o policial noir “Ilha do Medo”, que forneceu a Martin Scorsese a delirante trama do filme homônimo estrelado por Leonardo DiCaprio e que acumula uma bilheteria de US$ 75 milhões. A valorização dos enredos de Lehane foi sinalizada quando Clint Eastwood dirigiu “Sobre Meninos e Lobos”, centrado na investigação de um crime de uma garota, filha de um policial. Na sequência veio “Gone Baby Gone”, com a estreia na direção de Ben Affleck. Por conhecê-lo apenas por suas atuações (e não das melhores), Lehane ficou apreensivo: “Eu estava um pouco cético quando fiquei sabendo que o ator de ‘Armageddon’ iria atacar o meu bebê. Mas fui surpreendido.”

img3.jpg

Como todos os seus livros, o próximo a ser filmado (“Naquele Dia”, por Sam Raimi) se passa na comunidade irlandesa de Boston e essa é uma das características dos escritores na mira de Hollywood: suas histórias sempre trazem um universo bem particular, com códigos próprios. E isso é fundamental na venda de uma marca. James Ellroy, por exemplo, cujo livro “Jazz Branco”, o último da tetralogia sobre Los Angeles, tem adaptação prevista para 2012, é obcecado pelo mundo do crime nessa cidade que abriga também o glamour do cinema. E esse é outro motivo para ele ser querido no meio cinematográfico. 

img1.jpg