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Munido tão-somente de um simples detector de metais e apadrinhado por uma enorme dose de sorte, um cidadão inglês cujo nome não foi revelado pelas autoridades britânicas desenterrou na semana passada um tesouro arqueológico que, segundo as primeiras análises de uma equipe de historiadores, pertenceu à civilização celta – coincidindo com o período da humanidade conhecido como a Idade do Ferro e datando aproximadamente do ano 500 a.C. A descoberta envolve 824 moedas de ouro, encontradas no interior de um jarro de cerâmica quebrado em um campo próximo ao mercado do condado de Suffolk, ao leste da Inglaterra. “Tudo indica que essas moedas são da Idade do Ferro”, disse a arqueóloga Jude Plaouviez. “Se formos avaliá-las nos padrões monetários atuais, elas devem ter valido cerca de um milhão de libras nos remotos tempos em que circularam”. Essa é a maior descoberta de relíquias desse período envolvendo os celtas que ocorre na Grã-Bretanha desde 1849. Naquele ano, e também por acaso, um jovem agricultor localizou aproximadamente 800 moedas.

“A importância desses achados é histórica e arqueológica”, disse Jude. “Não importa se as moedas descobertas no passado ou no presente têm grande valor material.” O principal ponto indicativo da importância histórica à qual ela se refere é que, desde a semana passada, os pesquisadores britânicos cristalizaram uma convicção: toda a região na qual hoje se localiza o condado de Suffolk pode ser considerada oficialmente um rico sítio da arqueologia porque (já era suposição, agora se tem certeza) abrigou populações que tiveram grande importância cultural, política e econômica. “Se houvesse naqueles tempos a possibilidade de se montar um ranking sobre a economia dos mais diversos locais e dos diferentes povos, não tenho dúvida de que os celtas estariam na liderança”, escreveu Jude em seu relatório na semana passada.

A notícia sobre as moedas saiu da Inglaterra, espalhou-se pela comunidade científica de diversos países e colocou Suffolk na mídia internacional. Quem não quer desenterrar moedas de ouro ou quaisquer outros tesouros? A resposta está no alto número de escavações que, da noite para o dia, começaram a ser feitas pela população em geral, todas na região onde as 824 moedas foram apontadas pelo detector de metais. Antes que essa busca, já desenfreada, virasse febre, e essa febre se tornasse uma espécie de corrida ao ouro, o Conselho de Serviços Arqueológicos da Grã-Bretanha optou pela interdição das áreas mais cobiçadas pelos “caçadores de moedas”. Toda essa correria é fácil de explicar pela tradição arqueológica do Reino Unido, que vive a revelar um passado de riqueza e ostentação. As moedas agora encontradas pesam, cada uma, cinco gramas – em ouro. Há uma curiosidade: a simpatia que os celtas nutriam por esculturas de duendes, que, segundo a cultura da época, protegeriam os potes e vasos nos quais se guardavam coisas de valores – a lenda dizia que os duendes faziam mal a quem se atrevesse a roubá-los. De outros períodos históricos e com as mais diversas datações arqueológicas, o fato é que do subsolo inglês já “brotaram” grandes tesouros – um dos mais relevantes, por exemplo, era composto de canecos de cobre e de vidro, cruzes e demais objetos de uma tumba que pertenceu à realeza no século VII. “A tumba estava intacta há milhares e milhares de anos, como se tivesse permanecido congelada no tempo”, diz o arqueólogo britânico Ian Blair.

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