Ser mãe é padecer no paraíso. Se o verso do poeta maranhense Coelho Neto (1864-1934) tem sua parcela de verdade, é provável que o paraíso das mamães de luxo seja bem mais requintado do que o dos simples mortais. Bonitas, finas e ricas, as damas da alta classe não estão livres do malabarismo diário do trânsito, da rotina do escritório e da educação dos filhos. Afirmam que o luxo está nas coisas mais simples, como passear à beira-mar ou ler um bom livro em uma poltrona de casa. Muitas vezes, porém, a praia localiza-se em Fernando de Noronha – ou em um condomínio fechado com acesso restrito – e a poltrona – uma Philipe Starck – decora a sala de uma mansão. No Brasil, estima-se que o mercado de luxo movimenta US$ 1,5 bilhão anual e está endereçado ao bolso de 4,5 milhões de felizardos que adquirem os produtos das grandes grifes. Vive-se a apoteose de marcas como Prada, Louis Vuitton e Dolce & Gabbana. Neste seleto reduto, o rendimento mensal médio do 1% mais rico não passa de R$ 14,6 mil. Mas basta verificar que 75% dos domicílios brasileiros vivem com renda média per capita inferior a dois salários mínimos (R$ 600) para visualizar a altitude da pirâmide.

Terra de contraste ainda mais intenso
é a cidade de São Paulo, responsável
por 75% do alto consumo no País. Na capital paulista, a renda média do 1% mais rico chega a R$ 36,6 mil por mês, o dobro da média nacional, segundo o Atlas da exclusão social: os ricos no Brasil (Cortez Editora). Perde, porém, para a alta renda média do Distrito Federal, de R$ 40,8 mil. No ranking das 100 cidades com maior número de famílias ricas, Brasília figura em terceiro lugar. São 35 mil. São Paulo está em primeiro lugar, com 443,5 mil famílias. Mas sua população é muito maior.

É esse o raio de ação da arquiteta Regina Strumpf, 49 anos, que cria móveis da Formatex, empresa da família. Casada com o empresário Eduardo Strumpf e mãe de três filhos já crescidos – a estilista Aninha 25 anos, Beto, 24, Flavia 18 –, Regina acorda às sete para praticar pilates e ioga em uma academia do Jardim Europa. Toma café da manhã em casa e segue para o escritório. “Tento almoçar em casa, mas acabo comendo em um restaurante. Prefiro os bistrôs pequenos e charmosos”, conta. Para ela, luxo é unir a família, alugar uma casinha na praia Vermelha, em Ubatuba, acordar cedo e pegar a orla ainda vazia. Ou ainda passar o fim de semana no sítio em Itu, no interior. Mas sem deixar de lado as coisas materiais. Regina freqüenta a Daslu há 20 anos. “Gasto uma fortuna com dermatologista, cabeleireiro, mas não acho que o luxo esteja ligado estritamente ao dinheiro. Bom mesmo é passear na Pinacoteca, visitar a feira de antigüidades do MuBE (Museu Brasileiro da Escultura), andar no Ibirapuera ou comer um sanduíche, de pé, na padaria Dengosa, que fica nos Jardins”, confessa.

Ferraris – São Paulo conta com a segunda maior frota de helicópteros e jatinhos particulares do mundo, perdendo apenas para Nova York. Ocupa a quarta posição no ranking internacional de venda de Ferraris (cerca de 30 por ano) e inaugura em maio a primeira loja da badalada joalheria Chopard na América Latina. “A cidade possui cinco lojas da Mont Blanc, enquanto Nova York só tem uma, e o shopping Iguatemi, que tem o metro quadrado de varejo na lista dos dez mais caros do mundo”, diz o carioca Carlos Ferreirinha, que coordena o MBA em gestão do luxo da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). “As mulheres são responsáveis por 80% do consumo de luxo e não ficam indecisas antes de arrematar uma peça de roupa por R$ 9 mil. Vale lembrar que um quarto das famílias paulistanas de alta renda (1% mais ricas) são chefiadas por mulheres”, diz Larissa Ortiz, diretora do DataVip, instituto de pesquisas voltado para o alto mercado, com sede na Escola Superior de Administração, Marketing e Comunicação de Campinas (SP).

Umas das butiques que compõem o roteiro dessa mulher é a Trusseau, loja de enxoval de Adriana Trussardi, 36 anos. Mãe de Gabriela, 10, Romeu, 8, e Vitória, 4, Adriana passa cada segundo que pode em família. Recentemente, bolou uma estratégia: em cada viagem internacional que faz a trabalho, leva uma das crianças. Assume a maioria das responsabilidades em relação aos filhos. Claro que respaldada por babá, motorista, ajudantes. “Levo e busco todos eles no colégio e tento acompanhá-los à natação, ao tênis e ao balé. Gosto de supervisionar o banho e o jantar. Só depois de colocá-los para dormir saio para jantar com meu marido”, conta.

Já a arquiteta Fernanda Marques, 39 anos, não resiste a templos da
gula paulistanos como Gero, Parigi e Forneria. Quando está com os filhos, segue para algum restaurante japonês: exigência dos pequenos. Ao todo, são seis. Fernanda é mãe dos trigêmeos Rafael, Isabella e Victoria, 10 anos, e seu marido tem outros três herdeiros do primeiro casamento: Bianca, 16, Alice, 13, e Gabriel, 8. Todos moram na mesma mansão no Jardim Europa, também em São Paulo, com direito a piscina, home theater e parede de escalada. Nada mal para a profissional à frente dos projetos do L’Essence, luxuoso spa de beleza dos Jardins, da Fórmula Academia e do apartamento de Daniella Cicarelli. “Luxo para mim é curtir a família”, diz Fernanda. Dona de uma silhueta invejável, vai à academia, tem personal trainer e faz shiatsu uma vez por semana. É melhor pensar duas vezes antes de comprar o presente do Dia das Mães.