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O escritor americano Noah Charney nunca furtou uma obra de arte, mas é sem dúvida uma das pessoas que estão mais qualificadas a fazê-lo. O seu recém-lançado livro O ladrão de arte (Editora Intrínseca, 314 págs. R$ 39,90) é um romance que combina ficção e fatos reais e revela como agem criminosos especializados em surrupiar telas valiosas. A obra ensina também quais as pistas que devem ser seguidas para se descobrir o ladrão. O enredo desenvolvido por Charney nasceu de sua tese de doutorado, na qual ele procurou enfocar o mercado paralelo das obras de arte e desvendar as motivações psicológicas e os procedimentos práticos na execução de roubos. O propósito de Charney é contribuir com as investigações que estão em curso e ajudar a prevenir furtos futuros. Atualmente o mercado clandestino das obras de arte movimenta US$ 6 bilhões – é o terceiro mais valioso do planeta, ficando atrás apenas do narcotráfico e da comercialização ilegal de armas. E de todos os roubos de que se tem notícia, apenas 10% foram solucionados.

Uma das dificuldades para prender os ladrões é que os próprios museus mantêm em segredo o furto de uma obra por temer que isso comprometa novas doações à instituição. Charney resgatou os registros de obras furtadas na Europa e nos EUA nos séculos XIX e XX. Tudo que aprendeu ele usou para compor o seu romance, que lembra um pouco o best-seller O código da Vinci, de Dan Brown, em que investigadores perseguem pistas elaboradas e complexas para desvendar misteriosos desaparecimentos de peças de valor. Um dos personagens que inspiram o livro é o garçom francês Stéphane Breitwieser, preso em 2002 por roubar o equivalente a US$ 1,5 bilhão em obras de arte de museus e galerias em sete países europeus. Ele declarou que furtara a primeira tela porque os olhos da mulher retratada lembravam os de sua avó. Trata-se do Retrato de Giovanna Tornabuoni, do italiano Ridolfo Ghirlandaio – a modelo foi esposa do artista e morreu pouco depois de concluída a pintura. Em 2005, o roubo de uma escultura de Henry Moore, Figura deitada, da casa de um colecionador, virou mistério. Charney não tem dúvidas: foi derretida, transformada em estatuetas e vendidas no e-bay. Embora ele não conheça detalhes dos roubos recentes no Brasil, chama a atenção para o fato de que as telas dificilmente seriam vendidas porque são famosas. Isso aponta, em sua teoria, para crimes ordenados por amantes das artes. Mas é só uma teoria.