i65636.jpgO diretor francês Vincent Garenq acompanhou de perto o desenrolar de uma história real já intuindo que ela poderia lhe render uma bela, e talvez polêmica, adaptação para o cinema. Um de seus grandes amigos, Manu, assumidamente gay, viajou acompanhado do namorado e de um casal de lésbicas para discutirem, durante o passeio, a possibilidade de terem um filho – Manu e o companheiro tentariam fazer com que uma das mulheres aceitasse ser a barriga de aluguel. O desejo do amigo aproximou Garenq da Associação de Pais Gays e Lésbicas (APGL), onde conheceu muitas pessoas nessa mesma situação. Com as histórias que reuniu, apostou na realização de um documentário sobre o tema, mas foi barrado por produtores que se negaram a abordar o assunto. Ele utilizou então todas essas informações para elaborar o roteiro que daria origem a Baby love, o primeiro longametragem de sua carreira.

Em tom leve e descontraído, o filme, que acaba de estrear no Brasil, conta a história do pediatra Emmanuel (Lambert Wilson) e do advogado Phillipe (Pascal Elbé), um casal de gays da alta classe média francesa que tem tudo para ser feliz mas não o é porque Emmanuel sente o desejo irrefreável de ser pai. Quando o sonho de um acaba se transformando no pesadelo do outro, eles começam a perceber que os ideais que um dia os uniram também podem agora destruir a relação. Phillipe tenta em vão fazê-lo desistir da idéia da paternidade, mas ele se mostra disposto a enfrentar as mais complicadas situações para ter um bebê – contornando a lei que o proíbe disso.

i65635.jpgEntre passagens interessantes, como a em que finge ser um heterossexual solteiro tentando convencer uma assistente social de que é capaz de criar uma criança sozinho, Emmanuel conhece Fina (Pilar Lopez de Ayala), estudante argentina sem visto para permanecer na França e que, precisando de ajuda, aceita ser a barriga de aluguel que ele procurava. “Acho que é algo que corresponde à nossa época, na qual os valores familiares estão desestabilizados. Mesmo assim há o desejo de se ter um filho”, diz Garenq. Para contar uma história sobre a paternidade entre casais gays, tema que, por ser tão contemporâneo, ainda requer muita reflexão, o diretor poderia facilmente ter escorregado paraum drama. O caminho que ele escolheu, no entanto, faz de seu filme uma sensível comédia na qual não falta a seriedade que o tema exige.