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INVESTIGADOS
Contratados da Blackwater no Iraque teriam matado até 20 civis em 2007

Não deu nem tempo para a poeira dos prédios destruídos pelo terremoto do último dia 12 de janeiro, no Haiti, assentar. Na noite daquela mesma terça-feira, a International Peace Operations Association (Ipoa) já tinha criado uma página na internet para oferecer os serviços dos clientes que representa. E engana-se quem pensa que esses préstimos se restringem a esforços humanitários. Apesar do nome, 25 das 55 empresas que compõem o portfólio do órgão atuam em um segmento bastante específico: o da segurança particular. Com a estrutura estatal do país caribenho em frangalhos, o setor vive um boom na região. Pelo menos duas empresas, a Hart Security – filiada à Ipoa – e a All Protection & Security já estão em solo, dando retaguarda a autoridades e empresas interessadas no enorme mercado de reconstrução que se abre no país.

“Temos outras 21 empresas prontas para oferecer seus serviços no Haiti”, afirmou John Messner, diretor-geral da Ipoa à ISTOÉ. “E esse número vai crescer.” O Haiti é apenas um exemplo recente da força do mercado mundial de terceirização da segurança, tradicionalmente legada aos exércitos. A presença de grandes contingentes de soldados profissionais em áreas de conflito espalhadas pelo mundo é cada vez mais comum. No Iraque e no Afeganistão, por exemplo, são pelo menos 250 mil soldados profissionais – eles não gostam de ser chamados de mercenários – contratados pelos EUA em combate. O número cresceu pelo menos 20% em 2009. “Para os governos, mesmo que caros, esses guerreiros particulares são boas alternativas aos exércitos comuns”, explica Reginaldo Nasser, professor de relações internacionais da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). “As leis que regulam esse mercado não são claras, o que deixa os soldados particulares em uma espécie de  vácuo jurídico”,afirma.

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Isso dá aos mercenários uma liberdade que os militares não teriam e exime os governos que os contratam de responsabilidades. “Se um deles morre, é o funcionário de uma empresa que morreu em serviço, e não um soldado, que incorre em desgaste político para os Estados”, diz. Mas optar pelos mercenários do século XXI tem seu preço. A Blackwater, maior empresa do ramo no mundo, com um exército de 40 mil homens, é exemplo do desgaste que esse trabalho pode causar, tanto para quem solicita serviços dessa natureza quanto para quem os presta. Em incursões pelo Iraque e o Afeganistão em 2007, soldados da Blackwater teriam assassinado até 20 civis e cometido abuso de poder. Com o escândalo, a empresa teve de mudar de nome; hoje chama-se Xe, e o então governo americano do presidente republicano George Bush foi acusado de fazer vista grossa. “Os governos tendem a optar por forças como essas para atuar em regiões onde há falência geral do Estado”, afirma Williams Gonçalves, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mas tudo indica que, mesmo em ambientes onde isso acontece, quando o assunto é segurança nacional e o direito de uso da violência, algum tipo de controle e supervisão precisa existir. Que os erros no Iraque e no Afeganistão sirvam de exemplo.