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Os chutes de um craque do futebol ou as manobras de um astro do surfe podem representar muito mais que apenas o esforço do atleta para vencer uma competição. Muitas vezes, esportes como estes definem a cultura de uma época e até inspiram modismos e costumes. Essa contribuição histórica, ainda pouco reconhecida nas atividades esportivas, começa a ser resgatada por duas iniciativas em São Paulo e no Rio de Janeiro. A principal delas é o Museu do Futebol, instalado em um espaço de quase sete mil metros quadrados no estádio paulista do Pacaembu e orçado em R$ 32,5 milhões. Ali, a partir da segunda-feira 29, a paixão brasileira pelo antigo esporte bretão passa a ser apresentada através de 1.500 fotos, várias imagens em vídeo e elementos cenográficos. "Visitar esse museu será como visitar a história do Brasil no século XX", define o curador, Leonel Kaz. "O futebol ajudou a formar a identidade do País." As conquistas e decepções O registradas em campo têm como pano de fundo as manifestações culturais e o contexto político de algumas épocas. A outra iniciativa é a exposição sobre a história do surfe no Brasil, contada através do carioca Rico de Souza, 56 anos, um dos pioneiros do esporte no País e campeão de fama internacional. Ele pretende doar o acervo particular, exposto no Rio Design Center, no Leblon, para a criação de um museu.

No caso de Rico, a exposição chama a atenção para a necessidade de um espaço adequado que acolha as peças e fotos. "Há um prédio onde seria instalado o museu do surfe, na Barra da Tijuca, mas o plano não saiu do papel", lamenta Rico. "Desde já ofereço o acervo ao próximo prefeito eleito para instalar o museu, seja ele quem for." Na mostra do Rio Design há uma série de pranchas antigas e modernas, além de uma especial: a maior prancha do mundo, com 8,5 metros, usada por ele e registrada no Guinness book, o livro dos recordes. Há também várias fotos de uma época em que o surfe era uma atividade quase marginal, com alguns dos praticantes perseguidos pela polícia em pleno regime militar.

Já os amantes do futebol não têm do que reclamar. O novo museu paulistano é um dos mais modernos do País. Tem, além da exposição permanente, um auditório de 180 lugares, uma sala de exposições temporárias, um café e uma loja de suvenires. O conjunto está instalado sob as arquibancadas do estádio e o visitante tem pontos de acesso ao gramado. Kaz escolheu três linhas principais para contar a trajetória do esporte: emoção, história e diversão. Seguindo esses motes, há um festival de atrativos audiovisuais para envolver o público. Em um filme, Pelé dá boasvindas ao visitante; em outra tela, um vídeo mostra as crianças jogando bola em campos de várzea; mais à frente, imagens de craques como Didi, Romário, Garrincha e Nilton Santos parecem flutuar à frente do espectador. O rádio, meio de comunicação que serviu para sedimentar a paixão do torcedor brasileiro pelo futebol, é homenageado através de narrações de gols inesquecíveis feitas por locutores como Ary Barroso, Fiori Gigliotti, Oduvaldo Cozzi, Waldir Amaral, Jorge Cury e Osmar Santos.

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Osmar Santos. Uma das preocupações dos organizadores foi não fazer da mostra algo formal, distanciado da espontaneidade que é a marca do futebol. Há uma sala onde se contam histórias e superstições em estilo de almanaque, dotada também de mesas de totó (ou pebolim) para explicar os diferentes esquemas táticos. Em outro setor, bolas gigantescas abrigam convidados especiais que narram crônicas esportivas. Por fim, um filme em 3D mostra como o corpo de um atleta se comporta durante uma partida. Todas as salas são acessíveis e podem ser apreciadas por pessoas portadoras de deficiência.

Para aproveitar melhor o conteúdo do Museu do Futebol, uma equipe de educadores e monitores está sendo formada especialmente para esse fim. Os governos estadual e municipal e a Fundação Roberto Marinho têm como objetivo sugerir temas para aplicação em sala de aula. "Infelizmente, a escola não atende às necessidades de nossa época, então o museu tem também um compromisso com a educação pública", diz Kaz. Se este objetivo for alcançado, o futebol estará dando mais um motivo de orgulho aos brasileiros.