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Obra revela que Euclides da Cunha
evitava as mulheres e que seu
temperamento impulsivo pode
ter sido agravado pela sífili.

Celebra-se em 2009 o centenário de morte do genial escritor Euclides da Cunha (1866-1909), autor de Os sertões – livro que narra o massacre do líder messiânico Antônio Conselheiro no vilarejo de Canudos, no sertão nordestino. Euclides foi assassinado a tiros pelo amante de sua mulher. Entrou para a história, assim, pelo seu talento literário e também por ter sido entronizado — pela cultura machista que justifica ao homem todo destempero quando se trata de "lavar a honra" – como vítima da esposa adúltera, Anna Ribeiro, que o traiu com o militar Dilermando de Assis.

Agora, chega às livrarias um livro que coloca as ideias no lugar: baseado em documentos da época, mostra que o escritor foi mais algoz do que vítima. A obra chama-se Matar ou morrer: o caso Euclides da Cunha (Saraiva, 151 págs. R$ 54), de autoria da procuradora de Justiça de São Paulo Luiza Nagib Eluf. Ela tem a coragem dos iconoclastas e o rigor metodológico de quem coteja fatos. "As motivações que levaram Euclides a ir armado à casa onde moravam sua mulher e o amante, disposto a matá-los, não são diferentes das que causaram mortes recentes, como a da adolescente Eloá, assassinada pelo ex-namorado que, assim como Euclides, não aceitava o fim do relacionamento", disse ela à ISTOÉ.

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OLHAR FEMININO
A autora absolve Anna Ribeiro,
a mulher adúltera de Euclides da Cunha
(à esq.), das acusações e do
"achincalhe" de que foi vítima.

Luiza Eluf montou o seu livro a partir da leitura do processo contra Dilermando: "absolvo o casal Anna e Dilermando dos achincalhes de que foram vítimas" — conta-se que, ainda hoje, na cidade paulista de São José do Rio Pardo, onde foi escrito Os sertões, corre o comentário: "Perdemos um gênio por causa de uma prostituta". Na opinião da autora, Euclides foi vítima de sua vaidade pessoal e do conservadorismo. Luiza Eluf reproduz análise do médico Walter Guerra do laudo necroscópico de Euclides. Aí está uma revelação: ele seria portador de demência decorrente de sífilis (doença sexualmente transmissível), o que teria agravado o seu temperamento impulsivo. Isso não foi revelado à época porque Euclides era um "mito em vida". "Seu desinteresse pelas mulheres era notório. Tudo leva a crer que fosse misógino", escreveu Guerra. Nos dias de hoje, o fato não cria estigmas para Euclides. Mais: retira de Anna o rótulo de prostituta. Como a esmagadora maioria das mulheres, ela queria amor e não teve medo de vivenciá-lo.

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"Ao tentar matar o amante de sua mulher, Euclides agiu como o ex-namorado da adolescente Eloá, que a assassinou"
Luiza Nagib Eluf, procuradora de Justiça

 


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