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O piloto certo, na hora certa. Com quase 40 anos de experiência e 19 mil horas de voo, o capitão Chesley Sullenberger, 57 anos, executou um dos pousos de emergência mais heroico da história da aviação. Às 15h26 (18h26 em Brasília) da quinta-feira 15, Sullenberger pilotava o Airbus A320 da US Airways, quando, menos de um minuto depois da decolagem, sentiu o impacto da batida de pássaros nas turbinas da aeronave. O voo 1549, que partia de Nova York, não conseguiria chegar ao seu destino – a cidade de Charlotte, no Estado da Carolina do Norte. O comandante pediu à torre de controle autorização para voltar ao aeroporto, mas foi informado de que não teria condições de executar a manobra. Com as turbinas em chamas, esperava-se o pior.

Sullenberger, então, informou à base que pousaria no rio Hudson, entre as cidades de Nova York e Nova Jersey. Aos passageiros, alertou: "Abracem- se para o impacto." Muitos começaram a rezar e alguns já sentiam o cheiro da gasolina. Com as turbinas comprometidas, a manobra forçada tinha tudo para destroçar a base do avião de 70 toneladas, que afundaria no rio com a entrada na água. A performance do piloto garantiu um pouso suave para as condições do momento. Com a estrutura conservada, o avião planou sobre as águas do rio Hudson, como uma garrafa plástica. Dentro da aeronave, pânico. "Batemos na água com força. Foi assustador", disse à BBC o passageiro Jeff Kolodjay.

Instantes depois, a área em torno do rio já estava repleta de helicópteros, carros de bombeiros, policiais da guarda costeira e táxis aquáticos. A população, amedrontada desde o 11 de setembro, temia a possibilidade de mais um atentado. Mas foi tranquilizada ao assistir a uma cena digna dos milagres bíblicos. Passageiros pareciam caminhar sobre as águas ao saírem ilesos pela porta de emergência da aeronave. Todos foram aguardar o resgate, que não demorou a chegar, sobre as asas. Os que saíram pelas portas dianteiras tiveram que nadar nas águas geladas (a temperatura no ar era de -7ºC) para chegar aos botes salva-vidas. No acidente, um homem teve as pernas quebradas e outros 78, ferimentos leves. "É impressionante como conseguimos sair vivos daqui", afirmou o passageiro Alberto Panero.

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RESGATE PERFEITO Acima, passageiros saem da aeronave
à espera de socorro. O piloto Sullenberger (no destaque)
foi o último a sair depois do pouso forçado.

O comandante Sullenberger foi o último a sair. Antes, percorreu todo o avião duas vezes para ter certeza de que não deixaria ninguém para trás. Dono de uma empresa de segurança na Califórnia e ex-piloto da Força Aérea Militar, Sullenberger fez parte do Comitê Nacional de Segurança no Transporte e obteve certificado como piloto planador. Seu feito foi intitulado como "o milagre no rio Hudson" pelo prefeito de Nova York, Michael Bloomberg.

A Administração Federal de Aviação informou que, entre os anos de 1990 e 2005, houve cerca de 65 mil colisões com pássaros. Os acidentes ocorrem porque, ao serem sugadas, as aves rompem os metais internos da turbina. Há pouca tecnologia disponível para evitar esse problema, que atormenta a aviação mundial (leia quadro). Para diminuir o risco, as autoridades aeroportuárias utilizam alto-falantes que emitem sons de aves de rapina para espantar as aves. Mas elas são comuns justamente nos momentos críticos da pilotagem – aterrissagem e pouso.

As autoridades investigam a possibilidade de colisão do Airbus A320 com um bando de gansos canadenses – cada um chega a pesar de 1,3 quilo a 5,4 quilos. Segundo o comitê Bird Strike, nos EUA, a colisão de uma ave de 5,4 quilos com um avião em decolagem equivale à queda de um objeto de 453 quilos de uma altura de três metros sobre a aeronave. Foi o primeiro acidente aéreo, em 50 anos, no qual um piloto consegue pousar uma aeronave de grande porte na água sem mortes.

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