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A família do ex-presidente João Goulart quer que o Ministério Público brasileiro tome o depoimento de dois ex-agentes do FBI, o serviço de investigação americano. De acordo com o ex-agente do serviço secreto uruguaio Mario Neira Barreiro, os exagentes americanos Frederik Latrash e Michael Townley teriam sido envolvidos numa suposta trama para assassinar Jango, que morreu – a princípio, de infarto – em novembro de 1976, na fazenda em que vivia no exílio, na província de Mercedes, na Argentina. A família também tenta localizar um ex-agente argentino, de nome Hector Rodríguez. Segundo Barreiro, Rodríguez, infi ltrado como funcionário de um hotel em Buenos Aires onde Jango sempre se hospedava, teria trocado comprimidos do medicamento que o ex-presidente tomava para o coração, substituindo-o por uma substância que, ao contrário, acelerava o seu pulso cardíaco, precipitando o infarto. As ações que são capitaneadas pelo fi lho de Jango, João Vicente Goulart, e por seu neto, Christopher, poderão ensejar uma ação indenizatória envolvendo a União e os governos do Chile, Uruguai, da Argentina e dos Estados Unidos, caso seja mesmo possível comprovar que a morte do ex-presidente não foi acidental. Já há uma ação correndo no Superior Tribunal de Justiça, e que deverá subir para o Supremo Tribunal Federal, onde a família de Jango pede reparação ao governo dos Estados Unidos “pelos danos causados pela subversão da ordem jurídica e da queda da democracia promovidos por Estado estrangeiro”. “Já há a comprovação de que o governo americano interferiu diretamente para a deposição de meu pai, como fez também em vários outros regimes sul-americanos. Agora, queremos saber se houve alguma ação de fato que tenha resultado na sua morte”, diz João Vicente.

As últimas ações da família do ex-presidente são conseqüência de uma investigação concluída em julho pela Assembléia Legislativa do Rio Grande do Sul. A investigação acrescentou informações ao depoimento de Barreiro, que se encontra detido no presídio de segurança máxima de Charqueadas, acusado de tráfi co de armas. Um médico uruguaio, Carlos Milies Goluboff , com a ajuda de um químico chileno, Eugênio Berríos, teria desenvolvido a substância química trocada pelos remédios de Jango para o coração. Os remédios que o expresidente tomava chegavam da Europa ao hotel em Buenos Aires onde ele se hospedava. Ali, então, Héctor Rodríguez teria substituído seis comprimidos em diferentes frascos do remédio. Um dos comprimidos teria provocado a morte de Jango, segundo Barreiro.

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O maior problema de Barreiro é a sua credibilidade. Não se descarta a possibilidade de que ele tenha criado a trama para se proteger no presídio. O que surpreende a família de Jango é o nível de detalhes contados por Barreiro, que demonstram que, pelo menos, ele de fato monitorava o expresidente. “É aquele axioma: o autor não merece crédito, mas o relato é verdadeiro”, acredita João Vicente.

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