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AGENDA CHEIA
Hillary: pouco tempo para muitos problemas bilaterais

Ao chegar a Brasília no início deste mês, o embaixador americano Thomas Shannon defendeu a necessidade de mudança na percepção negativa que, segundo ele, prevalece quando o assunto são as relações entre o Brasil e os Estados Unidos. Na opinião de Shannon, o primeiro passo para inaugurar uma “nova agenda” bilateral se daria a partir da visita da secretária de Estado americana, Hillary Clinton. A viagem, adiada ao menos duas vezes, foi finalmente marcada para ocorrer na próxima quarta-feira 3. Mas, contrariando as expectativas da diplomacia brasileira, vai durar menos de 24 horas, e o Brasil será o terceiro país a ser visitado por Hillary. Antes, ela passará no Uruguai e no Chile. A agenda apressada, segundo fontes do Planalto, dificilmente terá o efeito desejado por Shannon. “Colocar a relação com o Brasil em trilhos mais produtivos é hoje o maior desafio do governo Obama em relação à América Latina”, aponta o cientista político Peter Hakim, presidente do Diálogo Interamericano, centro de estudos baseado em Washington. Hakim ressalta que em 2009 houve “sérios desgastes” na relação bilateral, apesar da empatia entre Lula e Obama.

Dentre os pontos de atrito, o analista cita a instalação de bases militares americanas na Colômbia, o retorno de Cuba à Organização dos Estados Americanos, a crise política em Honduras e os ataques de Hugo Chávez à liberdade de expressão na Venezuela. Para Hillary, essas questões fazem parte do passado e a ordem é olhar para a frente, mas o chanceler Celso Amorim prefere a cautela. De qualquer forma, estão prontos para serem assinados alguns memorandos de cooperação nas áreas de biocombustível e segurança alimentar, com foco na África e na América Central. Mais sensíveis serão as conversas em torno das gestões brasileiras no Oriente Médio, para onde o presidente Lula viajará nos próximos meses. Apesar da divergência, a diplomacia brasileira fez importante concessão aos americanos, criticando recentemente as violações aos direitos humanos praticadas pelo governo de Mahmoud Ahmadinejad. Já a eventual retaliação brasileira aos subsídios dos EUA ao algodão e a assinatura de um acordo comercial serão tratados exclusivamente pelo representante comercial americano, Ron Kirk, cuja visita ainda não foi agendada. Que seja em breve e, de preferência, mais longa do que a de Hillary.