Chegou em casa excitado. Jogou a pasta sobre o sofá e subiu a escada ágil como um menino.
– Mulher! – gritou, enquanto sentava na cama e tirava os sapatos, à espera de que a mulher ­interrompesse a conversa ao telefone.
– Você não acredita! O método é mesmo incrível, não falha!
A mulher lançou-lhe um muxoxo desconfiado.
– Vai valer a pena. É caro, mas, meu Deus, estamos ­falando de imortalidade!… Isso não tem preço, não é?
A mulher permaneceu em silêncio, com ar cético, embora fosse toda ouvidos ao entusiasmo do companheiro.
– É assim: a cada mês, o doutor Armstrong faz uma aplicação de fluido lunar. Dura uns 15 minutos, tudo rápido e sem dor. Se eu fizer isso por mais dez anos,
não morrerei de velhice, mulher. É como se os órgãos fossem congelados, entende? Suas funções permanecem como agora, não degeneram.
A mulher ouvia tudo impassível.
– Claro, sempre pode acontecer um acidente, uma doença terrível. Mas, de certa maneira, não vou envelhecer, paro aqui, nos meus 60 anos… Quem sabe eu não chegue aos 150? – dizia, rindo como um tolo.
Era um homem jovial, embora não fosse atlético. Esbanjava energia e bom humor. Ostentava uma pequena barriga saliente, fruto de sua paixão inveterada por cervejas. Economista aposentado, trabalhava como consultor financeiro de uma empresa de computação. Erguera um pequeno patrimônio em quase 40 anos de trabalho, que lhe dava tranquilidade e conforto. Criara dois filhos, hoje casados, tinha dois netos. Era razoavelmente feliz. Mas tinha uma obsessão: a imortalidade. Ou, no mínimo, a longevidade.
Quando soube do revolucionário método de aplicação do fluido lunar (uma nova tecnologia desenvolvida pela Nasa e ao alcance de apenas alguns poucos), não sossegou enquanto não marcou consulta com o doutor Armstrong, médico americano em temporada na cidade.
– Você também devia ir lá, amor – falou.
A mulher apenas balançou a cabeça, mas era um não, ele sabia.
– Querido, me sinto bem, saudável, não pretendo
viver pra sempre… Por que iria lá?… Sem falar que esse papo de fluido lunar ainda não me convenceu, parece papo de charlatão.
– Ora, mulher!
Parou aqui, sem argumentos. Foi para o banho. Sentia-se bem, espírito forte, coração pleno de coragem. Dormiu sereno. A mulher, na sua costumeira insônia, ligou a tevê. Passava o telejornal da meia-noite. Já quase nocauteada pelo sono, foi despertada pela chamada em tom de alarme do apresentador: “Veja a seguir – preso médico americano acusado de charlatanismo.”
Sentou-se na cama tensa, à espera da matéria reveladora. A seu lado, o marido dormia o sono dos justos, semblante calmo e apaziguado. Na tevê, o repórter esclarecia: “Foi preso há algumas horas o médico americano de ­passagem pela cidade que se dizia um dos criadores do método de aplicação de fluido lunar, com o qual prometia a seus pacientes nada menos que a imortalidade. Investigadores da Polícia Federal afirmam que tal método já levou à morte mais de 20 pessoas.”
A mulher olhou aterrorizada para o marido. Pôs a mão no seu coração, tentou sentir sua respiração. Em pânico, notou que seu corpo estava frio, imóvel. Soltou um grito estridente como uma sirene rasgando a noite. Ele estava morto. Mas não viu a morte cara a cara. À sua maneira, havia conseguido o que mais desejava, driblar a Indesejada. Era pois um imortal.