No mar, há cerca de dez mil metros de profundidade, existem formas de vida que estão mais para ETs do que para peixe. Mas são peixes. E a maioria deles emite luz. Há lulas transparentes, medusas gigantes, filhotes com cerca de sete metros de comprimento. Esses seres vivem em condições extremas nos abismos oceânicos, com ausência total de luz e sob toneladas de pressão atmosférica, em temperaturas médias de 20 graus centígrados negativos. Na semana passada, uma equipe de oceanógrafos alemães do Museu de História Natural Senckenberg, em Frankfurt, valeu-se de um dos mais modernos submarinos do mundo para capturar algumas espécies e trazêlas à tona – aquelas que são consideradas mais raras foram filmadas, desenhadas e montadas fielmente em laboratórios, enquanto uma ínfima parte do grupo que segue proliferando normalmente acabou mesmo sacrificada. Crime ambiental? Maldade? Não. É vital mostrar pela primeira vez aos olhos humanos esses seres que até hoje haviam sido observados somente pelos cientistas.

PEIXE-OGRO Os dentes afiados o impedem de fechar a boca

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RARIDADE Na mostra, há baleia gigante (no alto) e peixes com antenas para atrair suas presas

 

Montou-se assim em Frankfurt a exposição Tiefsee, que oferece ao visitante um passeio virtual pela escuridão abissal dos mares, correspondente a quase 70% da biosfera do planeta e, contraditoriamente, uma das áreas menos conhecidas do globo. A mostra ocupa um espaço de mil metros quadrados, distribuídos em dois andares, e nela são apresentados 45 animais e 35 modelos especialmente reproduzidos para o evento. Não há peixes vivos porque nenhum deles sobrevive fora de seu (para nós, inóspito) habitat. “Os organismos não podem ser levados, sob as mesmas condições de alta pressão, do fundo do mar até um aquário”, diz o biólogo marinho Michael Türkay, diretor de zoologia marinha do Instituto de Pesquisas Senckenberg. Imagine, por exemplo, um filhote de cerca de sete metros de comprimento. Pois bem, esse é um bebê cachalote de profundos abismos marítimos – enquanto um cachalote comum, desses que conhecemos e que vivem na superfície da água, na fase adulta mede no máximo três metros de comprimento, o bebê abissal, quando cresce, chega a 18 metros.

Há outras grandes atrações na mostra: o peixebola (Himantolophus albinares) possui forma arredondada, corpo elástico e consegue engolir outros animais que tenham até duas vezes o seu tamanho. Já o peixe diabo-negro (Melanocetus johnsonii) atrai sua presa com falsa isca, uma saliência luminescente que ele agita sobre a cabeça. A fêmea chega a 18 centímetros, mas o macho cresce somente até três centímetros. O diabomarinho (Linophryne arborífera), presente no Atlântico, Índico e Pacífico, tem dentes pontudos e órgãos que brilham na testa e sob a boca. Outra estranha criatura é o peixe-ogro (Anoplogaster cornuta), cujos dentes descomunais impedem que ele feche completamente a boca – mas, quando morde a presa, pobre dela. “Durante muito tempo os biólogos acreditaram que era impossível haver vida em grandes profundidades marinhas”, diz Türkay. “Hoje sabemos que ela existe e temos também a certeza de que há outros animais jamais observados.”