As decorações clean que reinaram absolutas nos anos 90, representadas por ambientes brancos e poucos elementos, estão dando espaço para outras possibilidades de design. E a melhor representação de que essa fase fria e asséptica não é mais tão onipresente nos lares brasileiros está nas paredes. A arte dos grafites, painéis de azulejos, de tecidos e até os inusitados lambe-lambes (aqueles papéis de propaganda colados nos muros) estão tomando o lugar dos quadros em residências e escritórios antenados. Tudo em nome de um espaço descontraído, personalizado e repleto de cores.

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Inovação, Ambiente idealizado por Marcelo Rosenbaum com lambe-lambes.

“O que importa é o cliente sentir que algo no ambiente foi criado exclusivamente para ele e que esse objeto seja elegante ou divertido, além de trazer a sensação de aconchego”, explica a decoradora Fernanda Dabbur. A parede se tornou o próprio suporte para a obra de arte, afirma o arquiteto Arthur de Mattos Casas. “O resultado sempre surpreende porque ultrapassa os limites das molduras. Pode, inclusive, percorrer o chão e o teto”, diz Casas, que exibe um trabalho de colagens com adesivos da artista plástica Chiara Banfiem seu escritório de São Paulo. Em casa, ele tem uma pintura da artista argentina Augustina Nuñez na parede. “A obra lembra um mangá japonês, entre o infantil e o perverso”, analisa. 

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Inovação, Pintura na casa do arquiteto Arthur de Mattos Casas

As alternativas para substituir os quadros surgiram no final dos anos 80, na Europa. “A decoração brasileira é conservadora. Só no fim da década de 90 é que essa tendência começou a engatinhar por aqui”, conta o artista plástico Celso Lima, que percebeu a mudança quando seus clientes começaram a pedir painéis de tecido para as paredes – material que ele usava anteriormente na forração de mobiliário. “Em uma viagem ao Nepal vi a utilização de sedas em acolchoados com lã de carneiro, revestindo as paredes de terracota das casas aldeãs. Nasciam assim minhas chacklas, como os hindus chamam seus acolchoados de parede. Desde 2003 é o foco do meu trabalho.”

No projeto que apresentou em novembro, na Casa Cor Peru, o arquiteto Marcelo Rosenbaum ousou ao cobrir com lambe-lambes as paredes do “Loft do jovem colecionador de artes”. O ambiente ganhou cor graças aos cartazes de rua, com anúncios de festas populares. Foi um dos espaços mais comentados do evento. Os novos recursos para as paredes só requerem um pouco mais de manutenção do que os quadros, em alguns casos. As pinturas, por exemplo, precisam de luz adequada para evitar desgastes. Os tecidos devem ser lavados com cuidado. Já azulejos e lambe-lambes podem ser limpos apenas com panos úmidos.