img.jpg
OFICINA
Se suspeitas se confirmarem, companhia deve recolher 1,3 milhão de unidades do Corolla para reparos

A crise do tamanho de um tsunami que já fez a Toyota recolher mais de nove milhões de carros ao redor do mundo para reparos desde novembro e abalou sua reputação em uma dimensão ainda incalculável poderia ser explicada por um singelo e tradicional provérbio japonês: tropeçamos nas pedras pequenas, porque as grandes vemos de longe. A desatenção da maior fabricante de automóveis do mundo aos riscos dos pequenos detalhes já causou um prejuízo de US$ 2 bilhões e a tendência é de que as perdas continuem crescendo, caso sejam confirmadas as suspeitas de que um novo recall, dessa vez do popular Corolla, precise ser anunciado nas próximas semanas. Tudo isso porque a Toyota fechou os olhos a problemas de qualidade que começaram a surgir há longos oito anos. Na virada da década passada a companhia japonesa iniciou a grande arrancada que a levou ao topo de uma indústria bilionária tradicionalmente dominada por americanos e europeus. Com um sistema de produção tão inovador quanto foi o fordismo no início do século passado, a Toyota passou a construir carros mais duráveis, mais econômicos e, principalmente, mais baratos do que seus concorrentes ocidentais. Só em 2009, um péssimo ano para a indústria automobilística por conta da crise nos países ricos, a companhia japonesa vendeu quase oito milhões de carros no mundo, número de dar inveja aos executivos mais otimistas de Detroit.

img1.jpg

 

Mas o sonho nipônico de dominação mundial começou a ruir em novembro, quando a companhia cedeu às pressões e convocou um recall de 3,8 milhões de veículos nos Estados Unidos por  conta de um problema no acelerador – que teria, teoricamente, causado mais de 800 acidentes e a morte de 26 pessoas. Desde 2002 a Toyota vinha recebendo reclamações a respeito do sistema de aceleração de seus carros. Eram reclamações pouco numerosas e esparsas e a companhia não deu a devida atenção a elas. Chegou a afirmar que se tratava de erro dos motoristas e, mais recentemente, que o problema estava nos tapetes de seus automóveis – que travariam o pedal do acelerador. Depois de muita resistência, a companhia admitiu que havia problemas no sistema e convocou o recall. Já era tarde. O estrago estava feito. O presidente da empresa, Akio Toyoda, neto do fundador da companhia, só veio a público em fevereiro, quando a situação estava saindo do controle – em janeiro, a Toyota vendeu menos de 100 mil unidades nos Estados Unidos, seu pior resultado desde 1998. Pediu as desculpas de praxe e prometeu levar o nível de qualidade aos patamares que garantiram seu prestígio internacional.

Em meio às desculpas, teve que se defender: “Não estamos escondendo nada nem fugindo de coisa alguma”, afirmou em uma entrevista coletiva em Tóquio, na semana passada. Ainda não se sabe se esse é o fundo do poço para a companhia. Caso o Corolla tenha que entrar em recall, como se espera, as coisas tendem a piorar. As combalidas companhias americanas andam felizes da vida com a desgraça da concorrente e torcendo para que os executivos da Toyota continuem a dar pouca atenção aos provérbios nipônicos, em especial o que diz que “pouco se aprende com a vitória, mas muito com a derrota”.