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VERMELHO DESBOTADO
Militante petista no 4º Congresso do PT, em Brasília: ideologia perdeu espaço no debate

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Desde sua fundação, o PT ganhou destaque no cenário político pela capacidade de formular ideias e estratégias. E não sem motivo. Havia por trás de suas iniciativas um seleto grupo de intelectuais com sólida formação acadêmica. Na origem, proliferavam teses e mais teses, todas inspiradas em livros-textos das várias vertentes marxistas. Fundador do partido, o sociólogo Chico de Oliveira lembra que o PT, ao nascer, foi em grande parte influenciado pelo pensamento do comunista italiano Antonio Gramsci. O professor da USP José Álvaro Moisés, que também assinou o manifesto de criação do PT no Colégio Sion, em São Paulo, em 10 de fevereiro de 1980, concorda com a influência de Gramsci. “Acreditávamos todos que o partido deveria ser uma expressão dos  movimentos sociais, com muita ênfase na ideia da democracia”, conta Moisés. O tempo passou e não dá mais para identificar com clareza quem inspira os militantes do PT. “Atualmente  ninguém influencia o PT. Ele virou um partido paraestatal”, afirma Oliveira. Envolvido na realização do 4º Congresso Nacional, em Brasília, que terminou no sábado 20, o deputado Rui Falcão, líder do PT na Assembleia de São Paulo, admite que do ponto de vista intelectual o partido mudou bastante. “Estamos muito voltados para o exercício do poder.

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Eu sinto falta da elaboração teórica”, diz. Falcão ressalta que isso não está ocorrendo por ausência de intelectuais. Segundo ele, cabe à Fundação Perseu Abramo funcionar como um centro formulador de ideias. “Acontece que não temos tempo para formulações de fundo”, explica. Moisés, que deixou os quadros do PT em 1989, vê a questão por outro prisma: “O partido perdeu substrato intelectual. E, exatamente por ter perdido a capacidade de elaborar ideias, caiu no pragmatismo. É vítima do eleitoralismo”, diz ele. Oliveira, hoje no PSOL, assina embaixo: “O PT não tem mais programa, tem projeto de poder.” Nem tanto ao mar nem tanto à terra. O PT, obviamente, continua a produzir ideias. Com uma diferença: não há a influência explícita de um grande pensador. O meio acadêmico já não tem tanta força no partido. As correntes sindicalistas prevalecem na direção da legenda.

Nos dias de fundação, eram ouvidos intelectuais do nível de Paul Singer, Francisco Weffort e Marilena Chauí, que, por sua vez, se  mantinham em contato com Florestan Fernandes, Mário Pedrosa e Antônio Cândido. Ao completar 30 anos, as estratégias do PT são esboçadas por um grupo acadêmico bem mais reduzido, que traz à frente o assessor da presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia. Na década de 80, Garcia também participava dos debates, era crítico do socialismo real e defendia espaço para os movimentos sociais. Agora, porém, ele é acusado de se deixar levar pelo pragmatismo, que joga todas as fichas nos resultados eleitorais. Mas seria exagero dizer que Garcia faz a cabeça de seu partido. Hoje, de fato, quem faz a cabeça do PT é a popularidade do presidente Lula.