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Em “Manual da ciência Popular” (cosac Naify, 2008), publicado em 1982 e reeditado há dois anos, o artista Waltercio caldas e o crítico Paulo Sérgio duarte atualizavam questões lançadas por Walter Benjamin em “a  obra de arte na Era de sua reprodutibilidade Técnica” (1936). ao tratar a relação entre o objeto de arte e sua reprodução fotográfica, indagavam sobre o fato de imagens não serem trabalhos, mas reportagens sobre trabalhos. o próprio Waltercio caldas inverteria essa ordem das coisas, ao trabalhar com livros de artista, uma modalidade de obra de arte que se aproxima dos múltiplos. Esse é o caso de “Velázquez”, lançado em 1996, com edição de 1.500 exemplares assinados pelo artista. Editado inteiramente fora de foco, o que seria uma monografia sobre o pintor espanhol é na realidade uma obra de arte em si. 

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O novo lançamento “Salas e abismos” conta com textos críticos de Paulo Venâncio Filho, Sônia Salztein e Paulo Sérgio duarte, mas não é catálogo, compêndio, monografia, ensaio teórico ou mesmo livro de artista (já que não é assinado). diferentemente dos anteriores, o livro que sai com projeto gráfico de Waltercio caldas pode ser considerado um “espaço expositivo”. assim, cada página corresponderia a uma sala, um quarto, um ambiente – já que o artista tende a intitular boa parte de seus trabalhos como salas, quartos, lugares. As obras são, portanto, “instaladas” em páginas duplas, sucedendo-se umas às outras como em espaços de um edifício. Participam dessa “mostra” 25 instalações, ou “salas”, datadas de 1985 a 2009. Nessa curadoria, reverberam especialmente aqueles trabalhos que se referem à linguagem artística. “a Série Negra”, por exemplo, além de, indiretamente, remeter às fases cromáticas de pintores como Picasso e Goya, faz referências explícitas a léxicos da arte: com objetos intitulados de “a Natureza-Morta” e “a Paisagem”. outros trabalhos que dissertam sobre a história da arte, seus códigos, seus gêneros são “Meio alto” (foto) e “a Série Veneza”. Se livros podem ser obras de arte, a recíproca também é verdadeira.

Colaborou Nina Gazire