Lá se vão quase 30 anos. Em 14 de janeiro de 1981, dois aviões russos Iliushin decolaram secretamente das pistas do Centro de Tecnologia Aeroespacial, em São José dos Campos, no interior paulista. Levavam urânio brasileiro para o Iraque. O Brasil tinha um de seus melhores cientistas em Bagdá, o brigadeiro Hugo Piva, e um sonho compartilhado com os iraquianos: o de construir o “artefato”, a bomba atômica. Seis meses depois, tudo foi pelos ares quando aviões de Israel bombardearam o reator de Osirak. Sob o pretexto de combater o terror, teve início a doutrina dos ataques preventivos. Na época, Celso Amorim era um promissor diplomata. Fazia parte de um grupo do Ministério das Relações Exteriores conhecido como o dos  “barbudinhos do Itamaraty”. Eram terceiro-mundistas e tinham simpatia por regimes autoritários, que desafiavam as grandes potências.

Algumas décadas depois, Celso Amorim se tornou chanceler num mundo marcado pela crise do Ocidente e pela ascensão dos emergentes, incluindo o Brasil. Esse contexto explica a cada vez mais explícita parceria entre o Itamaraty e o Irã – na semana passada, enquanto Estados Unidos, França e Rússia discutiam sanções a Teerã, que avança na direção das armas nucleares, o Brasil ainda defendia o diálogo. Objetivamente, Amorim trabalha para que os aiatolás do Irã, que pregam o extermínio de Israel, tenham a sua bomba atômica. Há dois meses, ISTOÉ revelou um acordo secreto firmado entre Brasília e Teerã de cooperação econômica e financeira. E o próprio ditador Mahmoud Ahmadinejad deixou escapar que o urânio enriquecido do Irã poderia vir do próprio Brasil – o que o Itamaraty se apressou em negar. Só que as evidências são mais fortes do que os desmentidos. E, tanto no Itamaraty como em outras áreas do governo Lula, muitos avaliam que o Brasil errou ao renunciar às armas nucleares – primeiro  com Fernando Collor, que, em 1990, fechou um campo de testes no Pará, e depois com Fernando Henrique Cardoso, que, em 1998, aderiu ao Tratado de Não Proliferação Nuclear. Hoje, nos BRICs, o Brasil é o único que não tem sua bomba – Rússia, Índia e China já dominam a tecnologia há anos.

A visão de mundo de Amorim e de alguns de seus gurus é a de que países que não possuem armas atômicas não são verdadeiramente independentes. Uma visão coerente com os anos de formação intelectual do chanceler. Mas o fato é que a parceria do Brasil com Ahmadinejad já configura a mais arriscada empreitada de toda a história do Itamaraty. E o objetivo, que ninguém se engane, é a bomba atômica. Tanto lá como aqui.