A tradicional impunidade com que os casos de corrupção são tratados no Brasil pode estar com os seus dias contados. Não dá ainda para idealizar uma absoluta guinada rumo à abolição da prática, à concretização do sonho de que toda corrupção será castigada. Mas é possível acreditar, sim, que teve início um processo saneador dessa velha mandinga nacional. A prisão de José Roberto Arruda, a primeira de um governador no pleno exercício do cargo na história da República, é um daqueles fatos transformadores que renovam as esperanças em um país mais justo, onde a lei é aplicada sem distinção, em sintonia com o que há de evoluído no mundo moderno. A postura de Arruda e de seus assessores, pilhados em vídeos explícitos recebendo e guardando sacos de dinheiro – e seguindo depois do flagrante, como se nada tivesse acontecido, com a sua rotina de governo –, representava um escárnio à sociedade. Por décadas, a ideia de que políticos corruptos e corruptores sempre escapariam, que não iriam pagar por tais crimes, que sairiam impunes e idôneos graças à esperteza ou a contratação de um bom advogado, ficou impregnada na cultura do País. Desta vez o roteiro seguiu com um desfecho diferente.

O presidente Lula chegou a afirmar que não é bom para a consciência política do Brasil um governador ser preso. Mas é bom sim, senhor presidente, pelo que traz de educativo, de alerta e de efeito inibidor dessa praga que consome várias esferas e setores da vida nacional. A corrupção no Brasil se tornou endêmica porque os mecanismos para reprimi-la são frágeis, a máquina legal é lerda e as manobras para driblá-la, infinitas. Vicejou o pior dos costumes. A precariedade do sistema de punição serviu de incentivo à prevaricação, semeou o cacoete nas sucessivas gestões da administração pública. No episódio, a lamentar o fato de que a capital federal enfrenta uma triste situação de desmoralização governamental em pleno ano que comemora seu cinquentenário de existência. A tal ponto chegou o problema que não apenas o governador é acusado por crimes de desvio. Também o vice-governador, o antecessor no governo, Joaquim Roriz, e até o presidente da Câmara Distrital, além de outros dez deputados, são investigados por envolvimento. Nesse cenário, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, achou por bem pedir a intervenção federal no Distrito Federal. Mas a decisão só sai depois do Carnaval. Até lá, o bloco continua na rua.