MITODENGO – ERNESTO NETO/ Galpão Fortes Vilaça, SP/ até 12/2

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Para Ernesto Neto, o mundo é duro como aço, mas requer dengo e delicadeza. E é isso que a escultura “Mitodengo”, exposta no Galpão Fortes Vilaça em São Paulo, representa. Em sua nova obra, o artista carioca surpreende por trabalhar com o aço, já que suas últimas instalações exploravam matérias delicadas, como o tecido, o isopor, o cheiro de especiarias. “Mitodengo” é uma escultura gigante, feita de peças de aço que se encaixam com surpreendente leveza, como um brinquedo infantil. Do balanço da rede de casa, ele fala sobre a necessidade de equilíbrio entre peso e doçura.

“Numa sociedade cheia de regras, a gente precisa de um certo dengo para amaciá-las”

O que é um “Mitodengo”?
É uma escultura que tem a rigidez do ferro, mas é toda macia. A gente vive numa sociedade cheia de regras, precisa de um certo dengo pra amaciar essas regras. Apesar de a palavra mito passar a ideia de uma coisa distante, histórica, a gente vive construindo pequenos mitos. E essa escultura é uma brincadeira de construção, que lembra um brinquedo infantil. É fundamental viver a vida com doçura. Mesmo no peso, na dureza.

Trabalhos anteriores tinham uma latência feminina. Você está em uma fase mais masculina?
Todos os meus trabalhos sempre tiveram uma tensão muito grande. Como uma brutalidade masculina num tecido feminino. É claro que toda a história do tecido tem uma relação com a mulher, e o aço com o homem. Mas existe um dengo, uma maciez, uma leveza nesta escultura. Existem as duas polaridades. O próprio encaixe das peças da escultura traz um sentido machofêmea. Pode até ser que exista uma masculinidade maior nesta escultura e acho ótimo que tenha. Ela é um contraponto à “Nave Denga”, que fiz há 11 anos. Denga é o apelido da mãe do Lito, meu filho. Sinto como se “Nave Denga” representasse a Lili e que “Mitodengo” me representasse, como um autorretrato.

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O banco de aço, perto da escultura, está ali para estimular a contemplação?
Com certeza. Tenho pensado muito na questão do ponto de vista. Sempre que faço uma exposição, penso em como a escultura irá se comportar dentro da galeria. Então, o banquinho é um ponto de vista, um ponto de escala – a escala humana minúscula, em comparação à escala imensa da escultura a ser observada. O banquinho tem esse diálogo com a escultura: é um ponto para observação. É como um dueto, como se os dois estivessem dançando no espaço.