Foi por acaso, como acontece em muitas das grandes descobertas. A sonda New Horizons lançada pela Agência Espacial Americana (Nasa) tinha como objetivo principal explorar Plutão, o menor planeta do sistema solar, e transmitir para a Terra as imagens e os dados coletados. Mas a New Horizons, uma máquina de quase 500 quilos em forma de triângulo, mudou o seu foco e acabou registrando muito além do esperado – ela nos enviou imagens, não do menor, mas, isso sim, do maior planeta que temos, ou seja, de Júpiter, que é 320 vezes maior que a Terra. E tais imagens jamais tinham sido vistas. A cerca de três milhões de quilômetros desse planeta gigante, a sonda conseguiu fotografar violentos raios em seus pólos e filmou uma erupção vulcânica em uma de suas luas. “Até hoje só vimos imagens que não conseguíamos identificar. As potentes lentes da New Horizons estão servindo como óculos para a astronomia”, diz John Spencer, um dos diretores do Instituto de Pesquisa Southwest.

A Nasa estava em festa, na semana passada, com essa sua nova menina-dosolhos: a incrível “coleção de fotos” de Júpiter. Mas por que a sonda acabou se aproximando desse planeta se o seu destino é Plutão? Foi para encurtar o caminho nos confins do universo e economizar quatro anos numa viagem que duraria mais de uma década que a sonda americana passou por Júpiter e ganhou impulso gravitacional, aumentando a sua velocidade em cerca de 14 mil quilômetros por hora. Diminuiu assim o seu tempo de jornada até Plutão, que agora deverá ser alcançado em 2015. Nessa busca de um atalho cósmico, a New Horizons presenteou os astrônomos com as fotos e os vídeos, uma vez que a sua câmera conseguiu filmar em Júpiter a erupção do vulcão Tvashtar, perto do pólo norte da lua Io. As imagens mostram uma coluna de fumaça e poeira de aproximadamente 350 quilômetros de altura, numa erupção de causar inveja ao maior vulcão da Terra, o havaiano Mauna Loa, com seus quatro mil metros de altura. Os instrumentos da sonda capturaram raios nos pólos quando ela passou pelo lado escuro de Júpiter. “Nada é parecido com o que estamos acostumados a ver por aqui. São raios milhares de vezes mais fortes do que vemos na Terra”, diz Amy Simon- Miller, cientista do Centro de Vôo Espacial Goddard. Os cientistas já tinham visto raios no meio do planeta, mas não em latitudes mais altas. Segundo Amy, na Terra os raios retiram a sua energia, em parte, do Sol. Ocorre, no entanto, que a luz do Sol é mais fraca nos pólos de Júpiter e isso sugere que esse planeta tem uma fonte interna de calor que se alastra às extremidades.

Enquanto algumas imagens enviadas pela New Horizons foram reveladoras, outras trouxeram dados que tornam Júpiter ainda mais misterioso. Naquelas que registram empoeirados, apagados e escondidos anéis foram detectados dois blocos de material parecido com o material das luas que percorrem os anéis visíveis do planeta. “Ainda não sabemos por que esses blocos estão aglomerados e o que os mantém no lugar. Trata-se de um fenômeno que não conseguimos explicar”, diz Mark Showalter, cientista da agência americana especialista em buscar vida inteligente extraterrestre. Já um mistério que pode ser decifrado com os sensores infravermelhos da sonda é a grande lua jupiteriana chamada Europa, onde se acredita existir um oceano salgado. “Isso aumenta a chance de que haja vida naquela lua. Ambientes similares na Terra, sob as calotas polares, estão cheios de vida”, diz Showalter. Lançada em janeiro de 2006, a sonda New Horizons custou US$ 700 milhões (muito bem gastos, crêem os astrônomos) e voltará agora a ter Plutão como destino de viagem.

COISAS DE JÚPITER

  • Tempestades com ventos de 500 km/h
  • O vulcão Tvashtar emite coluna de fumaça em formato de guarda-chuva
  • Acredita-se que haja um oceano salgado em seu satélite chamado Europa
  • É tão grande que, se fosse oco, caberiam dentro dele todos os planetas do sistema solar
  • Completa uma volta em torno de si mesmo em 9h50
  • Um dos anéis se estende a 130 mil km do centro do planeta

MORANDO EM SATURNO
Há dez anos, a nave não-tripulada Cassini partiu da Flórida para fotografar os anéis de Saturno. Foram sete anos de viagem até o destino final: o sistema saturnino. Desde então, a nave não parou de registrar flagrantes de Saturno e seus satélites – e foi graças a esse trabalho que a astronomia conheceu os mistérios dos anéis compostos por gelo, poeira e material rochoso. Para marcar o aniversário da Cassini, a Nasa divulgou imagens inéditas do sexto planeta do sistema solar obtidas pela nave.

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