O uso do Acomplia, medicamento que ficou conhecido como a pílula antibarriga, está provocando polêmica no Brasil. Estão surgindo casos de pacientes que usaram a droga e desenvolveram episódios de depressão. É o caso da produtora carioca Denise (nome fictício a pedido da entrevistada), 50 anos. Ela conta que, semanas depois de tomar o remédio, começou a se sentir deprimida. “Só chorava e não queria sair da cama. Parei de trabalhar e comecei a ter pânico de ir para a rua”, diz. A situação se tornou crítica. “O desespero era tanto que às vezes eu preferia morrer a continuar sentindo aquilo”, diz. Denise parou de tomar o remédio, buscou auxílio de um psiquiatra e agora toma um antidepressivo e um ansiolítico (medicação contra ansiedade). “Estou melhor, mas ainda não consigo sair de casa”, diz.

No consultório do psiquiatra Rubens Campos Filho, em São Paulo, dez pacientes procuraram ajuda desde o começo do ano. “Dois manifestaram desejo de se matar”, afirma. Entre os médicos que estão receitando a medicação, também há registros de casos. O endocrinologista Alfredo Halpern, de São Paulo, por exemplo, tem 300 pacientes usando a medicação. Seis interromperam o tratamento porque manifestaram o chamado humor depressivo. “Ficaram mais tristes, sem vontade de fazer as coisas”, conta. “Mas, assim que a droga foi suspensa, voltaram ao normal”, diz. Dos 85 pacientes atendidos pela endocrinologista paulista Maria Fernanda Barca que utilizavam o medicamento, 12 apresentaram o problema. Na experiência do endocrinologista carioca Flávio Madruga, dos 300 usuários do Acomplia, um teve variação de humor.

Na verdade, o risco de ocorrência de depressão já estava previsto, registrado inclusive na bula do remédio. “A droga é contra-indicada para pessoas que tiveram episódios da doença, que estejam depressivas ou realizando tratamento com antidepressivos”, afirma Jaderson Lima, diretor-médico da Sanofi- Aventis, laboratório fabricante do remédio. Apesar disso, na opinião de grande parte dos especialistas, o Acomplia continua sendo uma boa opção. Ele é indicado como adjuvante à dieta e ao exercício no tratamento de obesos ou pessoas com sobrepeso portadoras de fatores de risco associados como diabete tipo 2. “Todo remédio tem efeito colateral. Continuo considerando o Acomplia uma droga excelente, com muitos benefícios”, diz Alfredo Halpern. “É um remédio fantástico, como há tempos não se tinha”, afirma a endocrinologista Maria Fernanda.

Na avaliação dos médicos, porém, o importante é ter muita cautela para fazer uma indicação correta e depois realizar um acompanhamento rigoroso do doente. “Vejo os pacientes a cada 15 dias nos primeiros dois meses”, informa o endocrinologista Flávio Madruga. O procedimento é realmente obrigatório. Por meio dele é possível identificar quando algo está errado, como no caso de Nelcina Tropardi, 34 anos, e de Andréia Bergestein, 39 anos. Nelcina ficou apática e chorosa depois de tomar o remédio e Andréia, mais irritada. Assim que relataram os sintomas para os médicos, a medicação foi suspensa. “Tudo voltou ao normal”, conta Nelcina. “A irritação e a impaciência sumiram”, diz Andréia.

Segundo o laboratório Sanofi- Aventis, em julho a Agência Européia de Medicamentos confirmou que a relação benefício- risco do remédio é positiva. No Brasil, o Acomplia foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária mas ainda aguarda a fixação de preço para ser comercializado. Muitos pacientes importam o remédio de um dos 20 países onde ele já foi lançado. Outros, no entanto, compram pela internet sem nenhuma garantia do que estão tomando. A medicação ainda não foi aprovada nos Estados Unidos. O FDA, órgão americano responsável pela liberação de remédios, solicitou mais informações do fabricante antes de dar uma resposta final.