A bandeirada final do Grande Prêmio do Brasil, que será disputado no autódromo de Interlagos no domingo 21, vai encerrar uma das mais sujas – e não é de graxa – temporadas de Fórmula 1 de todos os tempos. O surgimento do talentoso piloto inglês Lewis Hamilton e mesmo algumas corridas espetaculares do espanhol Fernando Alonso ficaram em segundo plano diante da enxurrada de maracutaias que vieram à tona. Em julho, comprovou- se que o antigo engenheiro-chefe da Ferrari, Nigel Stepney, repassava segredos industriais para a rival McLaren. A equipe inglesa foi multada em US$ 100 milhões e perdeu os pontos, mas os pilotos não foram punidos.

Este foi o principal escândalo de 2007, mas não o único. Os amantes do esporte ainda seriam surpreendidos com lances de chantagem, contra-espionagem e lobby explícito. Quem acompanha a categoria sabe que esse tipo de jogada não é novidade. “Não é de hoje que a barra é pesada, mas talvez antes houvesse um pouco mais de espírito esportivo”, avalia Ingo Hoffmann, que correu na Fórmula 1 na década de 70 e hoje está na Stock Car. O bicampeão mundial Emerson Fittipaldi, em entrevista a uma agência de notícias portuguesa, confirmou a tese do colega: “Isso sempre existiu, mas não era uma coisa tão aberta.”

O fato de Hamilton e Alonso, que se beneficiaram das informações conseguidas ilegalmente pela McLaren, não sofrerem nenhum tipo de sanção revelou o caráter político do julgamento. O resultado acabou sendo um escândalo à parte. O próprio presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Max Mosley, lamentou que os dois não tenham sido excluídos do campeonato. Para Hoffmann, daqui a seis meses todo mundo já esqueceu as manobras escusas. “Michael Schumacher ganhou um campeonato jogando um adversário para fora da pista e ninguém fala mais nisso”, comenta o piloto. Fittipaldi não acredita que o público se afastará da F-1 por causa do episódio, mas pede providências: “Isso não pode acontecer mais.”

O campeonato de 2007 teve ainda ingredientes de chantagem. Alonso teria ameaçado tornar pública a prática de espionagem se o dono de sua própria escuderia, Ron Dennis, não dispensasse a ele tratamento privilegiado. Como se não bastasse tanta confusão, o pivô do caso, Nigel Stepney, declarou à imprensa que a Ferrari também espionou a McLaren. Ele diz não ter provas da acusação, mas acusou Mike Coughlan, que foi projetistachefe da equipe inglesa, de vender informações ao adversário. “Espionagem industrial sempre houve entre as equipes e vai continuar havendo”, acredita Hoffmann. O piloto surpreende ao denunciar que os golpes baixos não se restringem à F-1. “Coisas assim acontecem também aqui, nas categorias regionais.” O automobilismo não é, decididamente, um lugar para amadores.