Ele já foi chamado de “gênio” por Robert Parker, o mais influente crítico de tintos e brancos nos Estados Unidos. O guia italiano Gambero Rosso o classifica de “Rei do Vinho Piemontês”. As exclusivas garrafas com seu sobrenome são comparadas a Ferraris e Armanis, pois trazem potência e elegância incomparáveis. Angelo Gaja (pronunciase Gaia), o mítico produtor da Itália, revolucionou a qualidade do vinho no Piemonte, colocando seu Barbaresco lado a lado com os grandes Barolos, mais conhecidos no Brasil. E está em busca de clientes por aqui. Nesta segunda-feira 22, em São Paulo, ele autografa na Livraria da Vila o livro A arte de fazer um grande vinho, de Edward Steinberg (WMF Martins Fontes, R$ 47,50), baseado em sua história. Gaja conversou com ISTOÉ:

Qual a diferença entre um vinho bom e um grande vinho?
Os vinhos bons dão prazer aos consumidores. Os grandes vinhos despertam emoções, lembranças e sentimentos especiais.

O que há de tão especial no Barbaresco?
A uva nebbiolo, plantada exclusivamente no Piemonte. Nossa família faz Barbaresco há 150 anos. Nosso vinho tem personalidade, caráter, estilo. Temos sorte. Podemos ser confrontados com 20 Barbarescos de boa qualidade, enquanto os Barolos (também feitos com a nebbiolo) são comparados entre 150.

Como o sr. define a nebbiolo?
Como o Marcello Mastroianni. Não era fácil de se aproximar e ser seu amigo. É mais difícil de entender os taninos e a acidez da nebbiolo. Já a cabernet sauvignon é como John Wayne, faz grandes vinhos, mais fáceis de se admirar. Mas com comida, a nebbiolo é muito melhor que a uva francesa.

Dentre os vinhos franceses, prefere Borgonha ou Bordeaux?
Borgonha. Para meu paladar, a pinot noir é melhor. A Borgonha está mais perto de nós e da nossa cultura.

Por que o sr. condena o uso de muita tecnologia na vinícola?
A tecnologia pode ajudar, mas não podemos abusar. Sou um artesão. É importante para um artesão entender as tecnologias de viticultura e vinificação, mas o vinho precisa refletir a região onde é produzido. Temos de ter cuidado para não modificar o caráter do vinho, não deixálo com sabor internacional. A Itália tem variedades muito boas e é um dos poucos países que não precisam temer a harmonização do paladar do vinho.

Por que o sr. plantou cabernet sauvignon e chardonnay em Barbaresco?
A decisão de plantar cabernet provavelmente não foi muito boa. O Piemonte tem um clima continental, não é tão quente como o Mediterrâneo para amadurecer perfeitamente a cabernet. Quanto à chardonnay, foi uma bela opção. Mas também não produzimos muito com essa uva. Não queremos ser elefantes e correr o risco de ser comprados por uma grande corporação. Continuamos mosquitos.

O enólogo Michel Rolland está fazendo vinhos até na Índia. Isso é bom?
Não é ruim. Os Estados Unidos começaram com vinhos simples e hoje têm orgulho de sua produção. O mesmo pode acontecer no futuro com a China e a Índia. Se isso acontecer, temos de ser gratos, pois despertará o interesse pelos bons vinhos vindos de outros países.

Já bebeu vinhos brasileiros?
Não muito. Tive a chance de provar vinhos brancos e gostei de descobrir sabores diferentes dos que estou acostumado. O vinho tem de refletir a região e o Brasil tem paisagens lindas. O vinho é o melhor embaixador da cultura de um país.

Por que seus vinhos são caros?
Fazemos muito sacrifícios. A colheita de 2002 não foi boa o suficiente e a desclassificamos totalmente.