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INTERDEPENDÊNCIA
Obama e Jintao: briga tem limite

A visita do dalai-lama a Washington, prevista para ocorrer este mês, provocou tensão nas relações entre os Estados Unidos e a China. Pequim considera o líder tibetano um separatista e vê no encontro dele com o presidente Barack Obama uma afronta grave. Num encontro privado com Obama, em novembro, o presidente chinês, Hu Jintao, expressou “resoluta oposição” à presença do religioso em solo americano, o que, segundo ele, só fomentará o tumulto e a divisão. Na quarta-feira 3, o porta-voz da chancelaria chinesa fez uma ameaça velada. “Nós apelamos aos EUA que compreendam a grande sensibilidade da questão tibetana e lidem com o problema de maneira prudente e apropriada, para evitar danos adicionais às relações”, afirmou. O apelo, no entanto, não encontrou eco do lado americano. Obama fez que não ouviu e prometeu endurecer a relação, com ênfase na agenda comercial. “O enfoque que adotamos é ser muito mais firmes na aplicação das regras existentes”, disse o presidente a senadores democratas. “A relação bilateral, que com a posse de Obama prometia avançar, acabou retrocedendo e está em uma fase muito crítica. Talvez o pior momento em muito tempo”, avalia o historiador Severino Bezerra Cabral, presidente do Instituto Brasileiro de Estudos de China Ásia-Pacífico.

Ele lembra que, além da questão do dalai- lama e da censura ao Google, o diálogo entre Washington e Pequim sofreu outro recente abalo numa área sensível que é a militar. Há cerca de uma semana, os EUA anunciaram a venda de US$ 6,4 bilhões em armas para Taiwan. Cabral explica que Tibete e Taiwan são temas sensibilíssimos para a China, e no passado já levaram a crises muito sérias. David Shambaugh, especialista em China da George Washington University, acha que parte do problema está na própria diplomacia chinesa. “Eles têm se tornado muito truculentos, às vezes estridentes, às vezes arrogantes, sempre difíceis”, diz. Segundo ele, esse posicionamento tem praticamente inviabilizado a execução dos objetivos do memorando assinado por Obama e Jintao em novembro. Para Lytton Guimarães, coordenador do Núcleo de Estudos Asiáticos da UnB, a tendência é que as relações entre EUA e China continue a sofrer altos e baixos. “Mas não acho que essa dinâmica possa piorar, pois uma ruptura seria catastrófica para ambos os lados, com consequências para todo o planeta.” Ele se refere à interdependência entre  as duas nações. Se por um lado a China é a maior detentora de títulos da dívida americana, por outro o mercado consumidor dos EUA é o principal destino das exportações chinesas. Ou seja, China e EUA estão no mesmo barco e só lhes resta remar na mesma direção.

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