A famosa atriz revela por que prefere a música ao cinema e mostra no Brasil a força de sua banda

Juliette Lewis, 34 anos, vem ao Brasil na próxima semana para mostrar o seu lado roqueiro. Ela e sua banda Juliette and the Licks se apresentarão no País depois de cinco anos de estrada. A americana Juliette, "nascida e criada em Los Angeles", é mais conhecida do público como atriz. Atuou em diversos filmes importantes nos quais trabalhou com prestigiados cineastas – ficou famosa, por exemplo, a cena em que, ainda adolescente, é seduzida por Robert De Niro no aterrorizante Cabo do medo, de Martin Scorsese. Ela também estrelou, ao lado de Brad Pitt, o thriller Assassinos por natureza, de Oliver Stone. Juliette, por sinal, teve um longo namoro com Brad, hoje marido de Angelina Jolie. A atriz não se arrepende do tempo dedicado ao cinema mas deixa claro que gosta mesmo é de música. E de rock. Acaba de lançar o álbum Four on for floor (gravadora ST2) que tem a participação do baterista Dave Grohl, líder do Foo Fighters e ex-Nirvana. De Los Angeles, durante uma folga em sua longa turnê, Juliette falou, por telefone, a ISTOÉ:

ISTOÉ – Há quanto tempo está em turnê?
Juliette Lewis

Estamos na estrada há um ano e dois meses, viajamos pela Europa, pelos EUA e agora faremos alguns países da América Latina. Mas hoje (quarta-feira 17) estou de folga em Los Angeles, minha cidade. Nasci e me criei por aqui.
 

ISTOÉ – E foi por aí também que começou logo cedo no cinema?
Juliette Lewis

É verdade. Fiz testes e comecei fazendo uns seriados meio trash. Mas logo consegui bons papéis e me deslumbrei com o mundo do cinema. Antes eu já fazia música e sabia que voltaria a trabalhar com isso.

ISTOÉ – E como é trabalhar em Hollywood?
Juliette Lewis

Eu adoro cinema. Quando estou escrevendo música, cenas de grandes filmes me vêm à cabeça o tempo todo. Mas você fica um pouco refém da indústria cinematográfica quando trabalha como atriz. Não consegue mais organizar a sua própria agenda e fica encastelada em sets de filmagem. Eu adoro o contato com o público, me traz uma energia poderosa.

ISTOÉ – E como surgiu a banda?
Juliette Lewis

Eu tinha medo de montar a minha banda. Sabia que quando começasse a montá-la, isso me tomaria por completo. Desperdicei muito tempo fazendo bobagens antes de tomar a decisão.

ISTOÉ – Que tipo de bobagens?
Juliette Lewis

Exagerando no álcool, em drogas em geral, badalando muito. Mas sobrevivi. Acho que aprendi a colocar a minha energia nas coisas certas: a música que fazemos é urgente, perigosa e se propõe a divertir.
 

ISTOÉ – Foi difícil tomar a decisão de criar o grupo Juliette and the Licks?
Juliette Lewis

Eu fiquei muito intimidada no início. Não tinha ainda um ponto de vista do que eu queria. Não sou a guitarrista da banda e era minha responsabilidade achar os músicos, nos inspirarmos mutuamente para começar um trabalho juntos com uma identidade musical. E eu acho que quatro anos depois a gente chegou lá e eu gosto do resultado.
 

ISTOÉ – O que você acha da decisão do Radiohead de colocar o seu novo CD, In rainbows, diretamente à venda na internet na forma de download e dar a opção aos fãs de pagar o quanto quiserem?
Juliette Lewis

Eu estou muito ansiosa em saber como as pessoas vão reagir a isso. É uma experiência muito interessante e moderna. E que só pode ser feita por uma banda que já tem diversos discos lançados, dinheiro e muito sucesso. Eu não acho que uma banda iniciante possa fazer isso. Na verdade, não estou certa. Talvez funcione. Eu sou uma pessoa que compra CDs. Não gosto de ouvir músicas no computador.

ISTOÉ – Onde você guarda as suas músicas favoritas?
Juliette Lewis

Eu tenho um iPod, mas até hoje não passei as músicas para ele. Viajei toda a turnê com diversos cases cheios de CDs. A verdade é que computadores dão pau, uma ou outra vez isso acontece. E eu não quero correr o risco de perder todas as minhas músicas.
 

ISTOÉ – Você toca guitarra?
Juliette Lewis

Toco mal. A guitarra me assusta. Os dedos se prendem nas cordas, eu me enrolo toda. Sou muito impaciente. Eu toco piano desde criança e, nesse inverno, quando teremos um tempo livre, vou compor para o nosso próximo disco.

ISTOÉ – No seu novo disco você está pintada e vestida com trajes indígenas. Qual a idéia?
Juliette Lewis

Não é nada político, não estou engajada na defesa das populações indígenas. Na verdade, eu admiro a cultura dos bravos guerreiros indígenas e sou fisicamente tão pequena que gosto de me imaginar uma brava guerreira. E a cultura dos povos indígenas é marcada pelo espírito de liberdade, o que acho que me acompanha a vida inteira, especialmente nessa minha decisão de seguir a jornada musical.

ISTOÉ – E o público? Tem sido receptivo com o seu trabalho?
Juliette Lewis

Sinto que sim. Em Londres, há três anos, nós tocávamos para 100 pessoas em pequenos clubes, e hoje voltamos e reunimos 25 mil num estádio. É uma experiência poderosa. Escrever uma música, tocar e sentir pessoalmente isso tudo. É muito poderoso, sinto que achei o lugar certo para estar na vida.
 

ISTOÉ – Você sente que há algum preconceito pelo fato de você ter vindo do cinema?
Juliette Lewis

Entre os músicos não sinto tanto, recebi e ainda recebo a colaboração de muitas pessoas. Mas sei que há críticos que não darão o devido valor ao meu disco por esse motivo.

ISTOÉ – E quais artistas colaboraram na sua carreira musical?
Juliette Lewis

O Dave Grohl, do Foo Fighters, toca bateria em todas as faixas do meu novo CD. A P.J. Harvey me emprestou uma canção e eu fiz uma regravação dela (Hardly wait) no meu disco anterior. E sabe como eu aproximo o cinema da música? Eu já gravei trilhas sonoras de cinema. É o caso dessa música. Faz parte da trilha do filme Estranhos prazeres. Mas muitas pessoas colaboraram, inclusive pessoas do cinema, Martin Scorsese, Brad Pitt, muitas pessoas me deram apoio, já foram aos shows.

ISTOÉ – O que você imagina do futuro da música na era digital?
Juliette Lewis

Acho que com a internet e as gravadoras perdendo o poder que tinham, o caminho serão os shows. Eu acho que caminha para isso. Sair sempre em turnê e ter uma conexão maior com as pessoas. Muitas pessoas, talvez, não vão dar o valor que mereço por eu ter vindo do cinema, ser uma estranha aqui. Mas essa é a realidade.

ISTOÉ – O que você ouve e admira?
Juliette Lewis

Eu adoro os experimentalismos feitos por Nico e John Cage nas décadas de 60 e 70. Nico é inspiradora. Na cena atual, amo Björk, Queen of the Stone Age, Foo Fighters. Acho que são pessoas que estão criando outros sons, investigando e trazendo novidades para a cena musical. Amo tudo que emocione, crie uma imagem ou deixe a mente livre.
 

ISTOÉ – Musicalmente, o que você ouviu recentemente que mais a impressionou?
Juliette Lewis

Talvez uma jam session informal de John Frusciante, do Red Hot Chilli Peppers. Ele estava deitado enquanto fazia milhares de experimentalismos, produzindo sons barulhentos com guitarras. A ponto de deixar qualquer pessoa enlouquecida. E na seqüência, ele mandava outro som, realmente bonito. Quando você assiste ao show, percebe como essa alternância de sons e ritmos é poderosa.

ISTOÉ – Você está feliz?
Juliette Lewis

Eu tenho 34 anos, sou uma mulher de verdade agora. Às vezes não acredito que cresci.

ISTOÉ – Por quê?
Juliette Lewis

Comecei a trabalhar tão criança, era sempre a mais nova, precoce. E, de repente, virei protagonista. Minha geração já está sendo superada por outras que estão chegando por aí.

ISTOÉ – Você pensa em voltar ao cinema?
Juliette Lewis

Sei que farei um filme algum dia. Mas não sinto necessidade de fazer um filme só para fazer um filme. Quero trabalhar com pessoas que estejam tentando quebrar regras e fazendo algo novo em cinema. Gosto do Lars Von Trier, do Dogma (movimento cinematográfico que prega a desglamourização), de Quentin Tarantino.

ISTOÉ – Você é casada?
Juliette Lewis

 Não. Fui casada até cinco anos atrás e hoje somos ótimos amigos. Eu quero alguém que me mantenha aquecida durante a noite. Mas não agora.

ISTOÉ – Vai passar muitos dias no Brasil?
Juliette Lewis

Não teremos tempo este ano. É uma pena porque seria incrível encontrar músicos brasileiros depois do show. Tocar instrumentos e cantar. É incrível como é possível aproximar as pessoas através da música. Não precisa do idioma, nada, porque já existe uma linguagem.

ISTOÉ – O que você mais gosta nesse disco?
Juliette Lewis

Eu adoro a mistura de estilos que ele faz. As canções são muito diferentes entre si. Adoro Inside the cage, é uma das minhas favoritas. Estou orgulhosa desse CD.

ISTOÉ – Como o cinema interfere na sua música e vice-versa?
Juliette Lewis

Quando estou compondo sempre me lembro de uma cena, de rostos e lugares onde fui para realizar as filmagens. E é muito bom poder trabalhar com ambas as artes, duas áreas criativas. Eu gosto de misturar linguagens estrangeiras. Também participei de videoclipes, como Come to my window, de Melissa Etheridge.

ISTOÉ – Conhece alguma coisa da cultura brasileira?
Juliette Lewis

O Carnaval. Sei que tem algumas partes do País em que há bastante misticismo e diversidade musical. E que tem muito sol. Já ouvi tanta gente dizer que o Brasil tem a melhor música do mundo que estou ansiosa para conhecer mais. Quero conhecer a Bahia, pesquisar sons e percussão.

ISTOÉ – O que espera do show por aqui?
Juliette Lewis

É lindo que eu esteja indo para aí nesse momento. Quando decidir formar a banda há quatro anos, logo quis sair em turnê. E o meu empresário, organizando a primeira agenda de shows nos EUA, ainda não tinha nem um disco, e ele me perguntou que cidades eu gostaria de incluir. Eu, para mostrar que tinha grandes planos para a banda e que queria ir realmente longe com ela, disse para ele, coloque aí o Brasil, não sei qual cidade, mas quero ir ao Brasil. O seu país veio à minha cabeça do nada, eu jamais o tinha visitado. Bom, demorou um pouco, mas na semana que vem estarei aí.