Muitos recursos são usados para tornar menos sofrida a rotina de quem está internado em um hospital. O mais novo deles, utilizado com grande sucesso, é a fotografia. Ela está transformando a vida não só dos pacientes, mas também de médicos, enfermeiros, outros profissionais de saúde e familiares em vários hospitais brasileiros. E os principais personagens dessa mudança são esses próprios indivíduos. Com uma câmera na mão e muita história para contar, essas pessoas registram suas percepções do cotidiano hospitalar. O projeto foi lançado pela organização não governamental ImageMagica em parceria com o laboratório farmacêutico Roche. O objetivo é usar a magia das fotos para humanizar o árido ambiente hospitalar. Cada pessoa recebe uma máquina e decide o que ou quem vai fotografar. Em geral, retratam o médico mais querido, a enfermeira mais carinhosa, o companheiro do leito ao lado e, principalmente, as mamães, as figuras que mais aparecem nas fotos dos doentes. Por outro lado, os médicos também se sentem à vontade para fotografar seus pacientes. Essa experiência aproxima e permite que o profissional de saúde conheça mais seu paciente, e vice-versa. ?Saber como eles nos percebem por meio de imagens foi uma descoberta muito importante. A iniciativa é maravilhosa?, acredita o médico Daniel Willian Luansa, do Instituto do Câncer do Ceará, uma das instituições atendidas. A descontração gerada nos momentos das fotos e depois, na hora de mostrar o resultado, também tem ajudado a estreitar as relações e amizades nos hospitais por onde o projeto tem passado. Na verdade, nas imagens captadas pelas lentes desses ?fotógrafos? estão retratadas muito mais do que as simples ações do cotidiano. Elas revelam sentimentos de cumplicidade, carinho, solidariedade, angústia, esperança, tristeza, alegria e medo. Sensações e percepções presentes na rotina de quem lida diariamente com a vida e a morte e experimentadas também por quem está do outro lado, no leito do hospital. Na opinião do fotógrafo André François, idealizador do projeto, o trabalho também contribui para destacar a dedicação dos profissionais da saúde. ?Por isso, também registramos essas ações. Enquanto fotografam, eles próprios são clicados?, conta. O resultado do projeto será conhecido no final do ano por meio de uma exposição, um livro e um documentário com relatos e imagens de médicos e pacientes que estão sendo produzidos pelo fotógrafo. Nesse material, constarão histórias como a do menino paulista Wester, sete anos, popular e muito querido no Hospital Brigadeiro, em São Paulo, onde faz tratamento de leucemia. Apesar da terapia por vezes difícil e das dificuldades de acesso ao hospital ? ele mora longe e sai de casa de madrugada, com a mãe, para o hospital ?, o menino mantém o bom humor. E, assim que recebeu a câmera na mão, não perdeu tempo. Percorreu quartos e corredores fotografando as cenas que mais lhe chamavam a atenção. E o próprio garoto também foi fotografado no quarto enquanto aguardava mais uma sessão de quimioterapia.