A atriz Nicole Kidman casou-se novamente. Tirou a sorte grande, dessa vez, o cantor country Keith Urban. Nicole recebeu uma avalanche de excelentes presentes, mas entre eles despencou um paralelepípedo: a sua biografia escrita pelo historiador e crítico de cinema David Thomson. O título do livro não poderia ser mais atraente: leva, simplesmente, o nome da atriz. Aterrissou de forma ruidosa nas livrarias dos EUA e da Inglaterra e o motivo de toda a polêmica é que Thomson (mais de uma dezena de elogiados livros publicados) pinta Nicole como uma atriz calculista, que sempre colocou a carreira acima de tudo – em detrimento até de seu casamento com o ator Tom Cruise. Segundo o autor, Nicole teria usado o ex-marido e a união de uma década para o seu alpinismo social e profissional na indústria do cinema. Ao falar dos encontros entre Nicole e a princesa Diana, por exemplo, o biógrafo destila veneno puro: “Se Diana possuísse um milésimo da sede de poder de Nicole, teria sido a rainha da Inglaterra.”

Como em qualquer biografia, Thomson segue a trajetória da atriz, da cidade australiana de Sydney até os holofotes de Hollywood (ela nasceu no Havaí, mas foi criada na Austrália). Analisa seus filmes e leva a sério as suas entrevistas. Só que ele mistura passagens da vida da atriz com personagens que ela interpretou e declarações que deu à imprensa, e faz essa mixórdia de forma tão pessoal que só poderia mesmo deixar Nicole incomodada e contrariada – em alguns momentos, furiosa. “Ela falou com Thomson rapidamente ao telefone, nunca o encontrou pessoalmente para entrevistas”, diz a sua agente. O escritor não discorda, mas parte para o ataque: “Eu procurei seus agentes e pedi uma entrevista. O tempo passou e eu comecei a escrever o livro, uma boa parte sem sequer ouvir uma palavra dela. Em fevereiro ela me telefonou e me tratou como uma chefe lânguida e amável querendo saber o que eu queria, como se eu fosse um reles empregado dela.”

É essa forma desinibida e sem cerimônia de lidar com um mito do cinema que tem escandalizado os leitores de Nicole Kidman. Assim Thomson a descreve a certa altura: “Nicole não é uma deusa, mas carrega sua nudez com uma leveza, mais do que isso, um prazer, que se torna mais sensual que corpos majestosos em poses eróticas.” A aparição da atriz na noite do Oscar de 2003, vestindo um Karl Lagerfeld superdecotado, valeu a seguinte avaliação: “O branco difuso do vestido, o brilho resplandecente de seus ombros e o dourado do seu cabelo estavam de forma tão integrada que ela ganhava uma dimensão espiritual.” Como se vê, trata-se de um livro que equilibra a paixão do fã com a provocação perversa de quem não é ingênuo em relação ao jogo das celebridades. Casado e pai de dois filhos, Thomson nunca escondeu a sua obsessão por Nicole. Já no primeiro capítulo ele se declara: “Sim, é claro que eu a amo, eu a amo desde que não tenha de encontrá-la.” Aliás, é por isso que ele chama o seu livro de “uma carta de amor”.

A franqueza com que Thomson fala de seus sentimentos pode ser fruto dessa obsessão – o crítico Lawrence Levi escreveu no The New York Times que o autor obscureceu seus pensamentos. Em seu livro anterior, The whole equation: the history of Hollywood, ele dedicou um capítulo à atuação de Nicole no filme As horas, admitindo que tem uma “queda” pela atriz. Agora admite o seu desprezo por Tom Cruise. Ao lembrar o início do namoro entre os dois, Thomson escreveu: “Todos viram o romance como a sedução de uma iniciante por uma estrela estabelecida. Não viram que a garota não era apenas alguns centímetros mais alta que o rapaz. Era mais decidida, segura e forte.” Na mesma linha, ele tira conclusões ao abordar a relação de Nicole com o cineasta americano Stanley Kubrick, que a dirigiu em De olhos bem fechados, no qual ela contracenou com o próprio Tom Cruise: “Kubrick fez um filme que sussurrava o tempo todo a Nicole, você é um fenômeno sexual, não ele.” Pode até ser que Thomson esteja apenas papagaiando. Mas o fato é que, após o filme, Nicole descartou o marido.